08 dezembro 2017

A BANDEIRA DE UM CONTINENTE QUE CONTINUAMOS A ENCARAR COMO PROVINCIANOS


8 de Dezembro de 1955. Há precisamente 62 anos o Conselho da Europa escolheu a bandeira supra para representar o continente. Durante as suas primeiras décadas ela não terá passado de uma curiosidade até que em 1986 - já Portugal aderira à CEE - a então Comunidade Económica Europeia a adoptou como bandeira própria e a partir daí passou a projectar todo um outro significado político. Com aquele gesto, a bandeira azul das doze estrelas transformou-se também na nossa segunda bandeira, uma referência que é mais conhecida do que compreendida e isso acontece até mesmo com os maiores vultos do jornalismo nacional: abaixo, em 2009, ou seja 23 anos depois da sua adopção, assista-se a este momento peregrino de Ricardo Costa na SIC, a cometer a gaffe monumental de considerar que uma dessas bandeiras - por sinal, disposta numas instalações do PSD - está desactualizada por presumir que o número de estrelas corresponderia ao dos estados membros da (já então) União Europeia... Ora, não se compadecendo com a tudologia assertiva, a Verdade é que a bandeira sempre teve doze estrelas...

Mas este texto, para além de evocar o aniversário da criação da bandeira da Europa, não é para se destinar a desfazer ignorâncias arrogantes como as de Ricardo Costa, nem para criticar como se contemporiza com essas ignorâncias. Embora tenha a ver com uma outra atitude colectiva que nos é própria e com o que a SIC Notícias transmitiu ontem à noite: A Quadratura do Círculo. A parte nobre do programa foi dedicada a comentários à nomeação de Mário Centeno para chairman do Eurogrupo. Na verdade, a União Europeia enquanto estrutura política tem problemas bem mais graves com que se entreter, sejam as negociações do Brexit, sejam as inesperadas dificuldades que se estão a encontrar entre o seu membro mais poderoso, a Alemanha, para constituir governo. Realce-se que José Pacheco Pereira chamou a atenção para esse aspecto provinciano de discutir as questões europeias, mas qual quê! Logo houve quem o assumisse e com muita honra! (Jorge Coelho - aos 29:40). Enfim, se descrevermos uma conversa de largo do coreto em Beja ou em Bragança, em que o tópico dela seja a condição de alentejano ou transmontano do novo membro do governo "lá em Lisboa", aí talvez Jorge Coelho (e outros) já consigam perceber o limitado dessa forma de comentar a política. Mas assim, envolvendo Lisboa e Bruxelas, já não consegue(m) esse exercício imenso do raciocínio mental que é a extrapolação...

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