19 novembro 2022

A GUERRA TRAZIDA ATÉ ÀS PORTAS DOS LAURENTINOS

19 de Novembro de 1942. Se, entre os portugueses da metrópole se vivia a sua condição de neutrais compenetradamente, considerada a proximidade que os separava dos eventos da guerra, entre as comunidades portuguesas que viviam nas colónias, designadamente as das cinco colónias africanas*, o grande conflito mundial que então se travava era amenizado pelas circunstâncias do distanciamento. É perante esse panorama que se pode evocar a comoção que percorreu Lourenço Marques, a capital da colónia de Moçambique, há precisamente oitenta anos. Daquele porto saíra o cargueiro norueguês Gunda, um navio construído em 1919 com 2.141 toneladas de deslocamento e com uma tripulação de 46. Transportava 3.134 toneladas de carvão sul-africano para o porto de Zanzibar. Não foi muito longe. Com algumas horas de navegação, no local assinalado no mapa abaixo com sinal azul, o Gunda foi interceptado pelo submarino U-181 da Kriegsmarine e afundado. Nuns mares povoados por tubarões, apenas 8 dos 46 tripulantes sobreviverão ao torpedeamento.
E contudo, o episódio teve lugar a umas escassas 40 milhas náuticas da que hoje é a paradisíaca praia do Bilene. Nos dias que se seguirão, até ao fim daquele mês, o U-181, que era comandado pelo (então) Capitão-Tenente Wolfgang Lüth (que virá a ser um dos maiores ases daquela arma), afundará ainda mais seis navios (quatro gregos, um americano e um britânico) patrulhando aquelas mesmas paragens que eram também as rotas de aproximação ao porto neutral de Lourenço Marques. O cumulo da intimidação acontecerá a 28 de Novembro de 1942, quando o cargueiro grego Evanthia, que vinha de Áden e se dirigia para Lourenço Marques, será afundado a tiros de canhão a umas escassas dez milhas náuticas da costa moçambicana, quase ao alcance de João Belo. Terá sido um dos períodos de maior tensão sofrido pela cidade, que terá sido sentida sobretudo pelos membros da comunidade de origem europeia, e tensão essa que, curiosamente nunca terá sido sofrida com a mesma intensidade durante a sua própria guerra colonial ou de libertação, a que foi travada entre 1964 e 1974.
* Refira-se a excepção importante das duas colónias portuguesas do Oriente, Macau e, especialmente, Timor, que estavam cercadas, no primeiro caso, e mesmo ocupadas, no segundo, pelo exército japonês.

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