16 abril 2017

A CULTURA COM DINHEIRO E A CULTURA PELINTRA

Quando me chamaram a atenção para a apresentação da página necrológica do Expresso deste fim de semana, lembrei-me da fotografia da direita que vira por aí numa rede social, um pouco perdida no seu sentido irónico. De facto é engraçado o espaço comparativo que é dedicado naquela página a uma académica portuguesa de vulto recém-falecida e a um empresário filantropo norte-americano que morreu já há um mês e meio. Confesso que não conheço nem um, nem outro. O que não me impede de ter uma ideia muito precisa, baseada ainda que somente na leitura das respectivas biografias, da importância relativa a atribuir aos respectivos óbitos, que é precisamente a oposta ao critério que vejo adoptado acima pelo Expresso. E a associação que fiz com a fotografia ao lado não se relaciona apenas com os dizeres que se podem ler no aviso (os livros que estão expostos são apenas para enfeitar), mas também à curiosidade do local onde o aviso foi afixado: o Hotel Hilton, no San Francisco Financial District (que me promete tarifas desde €218 de diária). A designação pode ser só geográfica e os clientes do hotel podem nem perceber nada de finanças, mas a sua designação acrescenta um requinte pérfido à ignorância subentendida pelo aviso: o dinheiro pode ser um excelente sucedâneo para a cultura. E, para o que interessa concluir, parece que o dinheiro até consegue comprar a precedência sobre o mérito cultural, e mesmo não tendo sido isso que aconteceu, é o que parece aqui.

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