09 novembro 2016

QUÉ QUE RAIO ACONTECEU ONTEM?

António Alçada Baptista gostava de contar uma história que lhe agradava particularmente. Nela, há muito tempo, vai para uns cem anos, havia um americano (cá está: o americano!) qualificado, engenheiro ou coisa que o pareça. que tivera de ir trabalhar para o Brasil e que, ignorante da língua local e desejoso de a aprender previamente, publicara um anúncio num jornal da cidade onde morava - para simplificar, vamos considerar que se tratava de Nova Iorque - pedindo um professor de línguas que lhe desse aulas particulares de português ao domicílio. Respondeu-lhe um pobre imigrante que se prontificou a ensinar-lhe o português e assim o fez durante os meses que precederam o embarque do aluno para o Brasil. Só que o emigrante era da Catalunha e foi catalão que o americano aprendeu a falar, facto que este só se apercebeu quando chegou ao Brasil. Mas, mais do que a fraude quando a descobriu, a questão principal que incomodava o americano a ponto de o mobilizar a escrever ao antigo professor foi a seguinte: Afinal que língua é que eu falo?...
A curiosidade intelectual daquele americano que se tornara involuntariamente falante de catalão, mas sem saber identificar o idioma que falava, é semelhante à minha curiosidade a respeito do batalhão de sondagens e previsões que enformou estas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Ontem eu errei mas parece-me ter estado em excelente companhia. Afinal, estive a fazer contas com base em que dados? A imagem acima é a compilação de uma bateria dessas projecções feitas a dois/três escassos dias da votação ter lugar e constate-se como em nenhuma delas - e está lá a da Fox! - se antecipa o resultado da Vitória de Donald Trump. Para paradoxo, em companhia delas e baseada nos mesmos dados brutos, eu até me orgulhava de que a minha projecção era intuitivamente mais pessimista do que qualquer das apresentadas... Mas nem mesmo assim a minha intuição chegava para acertar na realidade. Fica-me a pergunta se isto foi apenas mais um episódio da tradicional acusação da manipulação da formação da opinião pública pela comunicação social (abaixo)...
...ou se acabámos de presenciar simplesmente um dos maiores fiascos de que há memória da história da informação política. Afinal, mais acima estão 15 (quinze!) projecções eleitorais de outros tantos órgãos de referência da comunicação social norte-americana, cobrindo um amplo espectro ideológico, que pagaram e se fizeram pagar (ao contrário do que aconteceu comigo...) para chegarem àquelas conclusões. Como fracasso supera (e muito!) o famosíssimo do Chicago Tribune de 1948 que dava Thomas Dewey por eleito em vez de Harry Truman (abaixo). Ora há que convir que 68 anos é muito tempo (e demasiado dinheiro) para concluir que a ciência das sondagens pode não ter, afinal, fundamentos científicos nenhuns... Desculpe, Pedro Magalhães, pela barracada que o critiquei de ter dado aqui há dois anos, afinal está em excelente companhia... Mas deixem-me que remate chamando a atenção para que Donald Trump não pode tirar a sua pequena desforra e gozar com o sistema, como outrora Harry Truman o fez: está demasiado dependente dele...

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