01 agosto 2016

«EMPIRES AT WAR»

A conclusão mais importante que extraí da leitura deste livro não tem a ver, directa e curiosamente, com o seu conteúdo. Trata-se da mudança subtil como o noticiário internacional se tem vindo a transformar durante os últimos 20 a 25 anos. Nesses tempos era quase garantido que os países mesmo mais discretos, caso do Lesoto ou do Suriname, tinham direito a umas duas ou três pequenas notícias por ano, anunciando mortes de chefe de estado e/ou mudanças de governo. As notícias, naturalmente sintéticas, eram a prova de vida da existência desses países remotos de que nunca se fala, e eram também os pequenos momentos de reconforto para os maduros que sabiam de cor onde se localiza Manágua ou Bujumbura. Podia não se saber detalhes, mas tinha-se uma ideia geral de como estava a situação no Níger. Actualmente, tem que cair um avião cheio de passageiros no Laos ou haver um terramoto na Papua Nova Guiné para que esses países mereçam a atenção, ainda que célere, da comunicação social. Pior: o pouco que é reportado pelas notícias, quando não se trata de uma catástrofe natural ou outra, não passa de um flash fotográfico de uma situação que depois não se explica mais detalhadamente. Foi por isso que me apercebi, através da leitura deste livro, que perdera muitos episódios significativos daquilo que acontecera depois do fim da Guerra-Fria em países asiáticos como a Malásia, a Coreia do Sul e mesmo o Japão. Não que aprecie particularmente as opiniões de Francis Pike, o autor. Basta dizer que se trata de uma daquelas pessoas que interiorizou que a solução para o desenvolvimento económico assenta axiomaticamente na entrega do maior número possível de actividades ao sector privado. Como o slogan das ovelhas de Orwell em versão século XXI, privado é bom, público é mau. Claro que isso o força, quando diante de situações em que o axioma não se confirma (por exemplo, quando se fala dos crescimentos económicos da Índia, da Coreia do Sul ou até mesmo da Malásia que têm sido impulsionados, em certas circunstâncias e sectores, pelo estado), a reduzir as certezas da doutrina com a caixa de velocidades, a fazer a curva da narrativa derrapando por cima dos factos. Mas há que reconhecer que os factos continuam lá e é por isso mesmo os livros deste teor, apesar da falta de objectividade, se tornam tão importantes para suprir as lacunas daquilo que o noticiário internacional deixou de cobrir. Por exemplo, e mesmo num país com a importância e com um acompanhamento cuidado como é o Japão, o noticiário internacional dá-nos a imagem da instabilidade política que ali se vive? É que desde 1989, data da ascensão ao trono do imperador Akihito, o Japão já teve 23 governos (Portugal teve 11) chefiados por 16 primeiros-ministros diferentes (7). Outro exemplo: compare-se a notoriedade do voo MH370 da Malaysia Airlines com a do primeiro-ministro daquele país. Creio que o leitor já terá ouvido falar quase certamente do voo misterioso, mas saberá o leitor, por acaso, como se chama o primeiro-ministro malaio?... Em suma, se outrora livros deste género eram úteis para quem quisesse acompanhar a situação internacional, a degradação que se processou nesse sector da informação parece-me tê-los tornado mais indispensáveis que nunca.

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