27 junho 2016

AS BOAS HISTÓRIAS TAMBÉM TÊM ALTURAS BOAS DE SE TORNAREM BOAS

Ontem conversava com alguém que se considerava detentor de uma certa cultura cinematográfica mas, reconhecia, algo limitada porque enfeudada ao que é produzido nos Estados Unidos. Não será só. Tem vezes em que até mesmo aquilo que é produzido pelos próprios Estados Unidos é condicionado pelas circunstâncias próprias do país. Em 1970 o filme MASH foi apresentado a concurso no festival de Cannes e ganhou. MASH é uma comédia negra que decorre num hospital de campanha norte-americano durante a Guerra da Coreia (1950-53). Por imposição dos produtores, a identificação da acção durante a Guerra da Coreia aparece logo no início do filme, não se prestasse o filme a ser confundido com uma paródia à Guerra do Vietname que estava então ainda em curso - que era, de facto, aquilo que o filme pretendia ser. Em 1970, a intervenção no Vietname ainda se apresentava aos Estados Unidos como um problema por resolver, apesar da promessa de campanha de Richard Nixon. Apesar dos indiscutíveis méritos do filme, que o haviam levado a ser um dos cinco finalistas nomeados para os Óscares desse ano, ele veio a perder na recta final para Patton, por acaso uma biografia de cunho elogioso ao general da Segunda Guerra Mundial. Mas entre os executivos da 20th Century Fox reconhecia-se que havia na história de MASH todo um potencial cómico passível de ser explorado, não fossem as circunstâncias adversas do prolongamento daquilo que estava a ser parodiado.
Dois anos e meio depois, essas circunstâncias haviam finalmente mudado. Havia-se conseguido criar na opinião pública norte-americana a impressão que a Guerra do Vietname terminara. Pelo menos, na parte que aos Estados Unidos dizia respeito isso era verdade. Assinaram-se os Acordos de Paz de Paris, o sucesso havia sido (claro!) de Henry Kissinger. Até se lhe atribuiu o Prémio Nobel da Paz em 1973. A ele e ao outro, o norte-vietnamita, que por acaso o recusou, por razões que o futuro esclareceria. Mas para o que importa nesta história, a ideia da exploração dos enredos das aventuras e desventuras dos membros de um hospital de campanha em tempo de guerra, a oportunidade parecia agora aberta para repegar a ideia com mais força num seriado televisivo homónimo que veio a ser transmitido durante 11 anos (entre 1972 a 1983). Num crescendo de popularidade, ajudado pelo facto do conflito vietnamita se tornar progressivamente cada vez mais uma memória, o último episódio da série, transmitido em Fevereiro de 1983, registou uma audiência de mais de 100 milhões de espectadores - que permaneceu record de audiências até 2010. A ideia era boa, os americanos precisavam era de tempo para se rirem dela.

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