22 maio 2016

PARA AJUDAR À COMPREENSÃO DA SITUAÇÃO BRASILEIRA

Os dados do crescimento económico do Brasil são muito maus (-5,9%). Entre as grandes economias da América Latina pior só mesmo a Venezuela. Quem quiser formar opinião sobre o que se passa no Brasil e preferir esquecer esse detalhe, que o faça à vontade. Mas será preferível levar em linha de conta que o país vive uma enorme recessão e ver o que aconteceu no Brasil quando de recessões semelhantes (os dados do quadro abaixo são os oficiais). O crescimento da economia brasileira tem sido normalmente constante e continuado, só perturbado de quando em vez por algumas recessões que se prolongam no tempo (e que estão assinaladas a vermelho). Houve o impacto da recessão de 1929 (-5,3%) e houve a Revolução de 1930 e o fim da política do café com leite. Houve nova recessão no princípio da década de oitenta (-6,3%), o movimento das Diretas Já! e aí até os militares tiveram que abrir mão do poder político que haviam conquistado em 1964. Houve uma terceira recessão importante no princípio da década de noventa (-3,8%) e a coisa culminou com o impeachment de Fernando Collor de Mello. Estes -5,9% mostram que não se deve tratar a destituição de Dilma Rousseff em 2016 como se se tratasse exclusivamente de uma crise política, esquecendo as circunstâncias económicas e sociais em que ocorre. As duas câmaras não podem ter votado esmagadoramente (por mais de 70% dos votos dos representantes presentes) pelo seu afastamento apenas por uma questão de oportunismo. O oportunismo é uma constante da política brasileira e está à disposição das duas partes em contenda - Dilma e o PT têm anos fazendo uso dele. Se os deputados e senadores assim se comportaram foi porque a reputação popular de Dilma está muito em baixo. E, quanto à sua (falta de) qualidade, reflita-se aonde a crítica nos pode levar, ao eleitorado que os elegeu, que, por acaso, são precisamente os mesmos milhões que possuíram a clarividência para eleger e reeleger Dilma.

4 comentários:

  1. Se seguirmos essa linha de raciocínio, que me parece bastante importante e fundamentada, quais as motivações económico-sociais que motivaram o golpe militar de 1964?

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    1. O que ali procurei demonstrar é que vicissitudes de índole económica têm reflexo no panorama político.

      Mas não creio que se possa ou deva concluir o inverso: que as alterações políticas registadas no Brasil tiveram todas uma explicação económica. O caso do golpe militar de 1964 é um exemplo disso. O derrube do Estado Novo de Getúlio Vargas em 1945 é outro.

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  2. Resta perguntar: porquê até meados de 2013 a situação vinha de forma excepcional, atingindo o país quase o pleno emprego? O que mudou?

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    1. É uma excelente pergunta, que tem ocupado economistas desde há 150 anos e não apenas para o caso brasileiro: como se consegue gerar o crescimento económico? O que é que provoca as crises?

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