13 maio 2016

NÃO ME ESTRAGUES A MERDA DA FOTOGRAFIA!

A cena que vou contar já tem mais de 30 anos. A cerimónia era a da distribuição das cartas de curso, com alguma solenidade, não sei se com sermão e missa cantada, mas nos Jerónimos e ao fim do dia. Compareci mais para não desapontar a mãezinha do que pelo moto próprio de quem atribui grande significado ao momento. Chegado o momento que interessava, a solenidade desmoronou-se aos pés da (ausência de) funcionalidade que a realidade revelou: nem todos os que teriam cartas de curso a receber estavam presentes, ninguém se lembrara de conferir previamente as presenças, as cartas iriam ser distribuídas por ordem alfabética e aquilo iria rapidamente desemparelhar - sendo António, anunciava-se desde logo que iria ficar com a carta de uma Ana qualquer. Com os nomes a ser debitados a uma cadência que disfarçasse as ausências, lá chegou rapidamente o meu, para ser acolhido por uma personalidade que eu não fazia a mínima ideia de quem fosse, que me deu o canudo e se apressou a explicar-me com ar severo quando do aperto de mão para a objectiva do fotógrafo, que o canudo que me estava a dar não era o meu. Foi esse o momento da saturação do que não passara de um grande frete e, com o sorriso mais caprichado que queria que ficasse perpetuado na fotografia que a mãezinha iria emoldurar, tive o meu único comentário genuíno dessa tardinha: - Sorria! Não me estrague a merda da fotografia...

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