22 novembro 2015

A IRLANDA. LEMBRAM-SE?

Na edição desta semana da The Economist há uma página dedicada à economia irlandesa (Celtic Phoenix). Por ali se lê que a economia irlandesa cresceu 5,2% em 2014 e 7,0% no primeiro semestre deste ano; que o desemprego desceu de um máximo de 15,2% nos inícios de 2012 até aos 8,9% em Outubro passado ou que a relação entre a dívida pública e o PIB descerá abaixo dos 100% no final do ano, depois de ter andado pelos 120% em 2012 e 2013. Enfim, a economia irlandesa parece ter atingido aquelas terras de leite e mel que nos haviam sido prometidas por Passos Coelho & Co. depois dos sacrifícios e purgas a que o seu governo nos iria submeter. E que tardam a revelar-se por cá, qualquer que seja o indicador. Onde a equipa governamental (em vias de deixar de o ser) mostra toda a sua excelência não é em explicar porque é aquilo que acontece na Irlanda não se repete por cá; a habilidade está toda em fazer desaparecer a Irlanda do radar mediático, especialmente depois (não sei se se recordam) de ela ter sido tão referenciada para a tão debatida saída limpa do programa de assistência... É que assim já não é preciso explicar nada e os resultados alcançados cá em Portugal também são um sucesso.

2 comentários:

  1. A memória nunca foi uma capacidade de que me pudesse vangloriar e, de há três anos para cá, tem vindo a deteriorar-se drasticamente. Apesar disso, tenho ideia de Brian Lenihan anunciar de imediato cortes salariais entre 5 e 15% a aplicar a 400 mil funcionários públicos, por forma a reduzir em mais de mil milhões de euros a despesa orçamental com salários. Também despedia cerca de 25 mil funcionários públicos e diminuía em 11,56% o salário mínimo nacional (que é aplicado à hora e não ao mês). Terá criado um imposto sobre o património imobiliário e aumentado os impostos sobre o rendimento, bem como a taxa do IVA. Relativamente a pensões, perda de benefícios fiscais para todos e corte de 10% nas novas reformas. Convirá ter também presente que o problema irlandês nunca foi a sua economia, que crescia a bom ritmo e com as exportações a representarem mais de 100% do PIB, “apenas” bancário. Já agora, lembrar que enquanto as medidas irlandesas eram tomadas sem esbarrarem em problemas de interpretação constitucional, por cá (em 2010) continuávamos a chegar fogo à peça, acelerando contratos de autoestradas, linhas de TGV e aeroportos (que não teriam impacto nas contas públicas, por serem investimentos privados…), enquanto nos bastidores se iam preparando medidas que anulassem o aumento salarial absurdo e eleitoralista concedido no ano anterior.

    Sucesso? longe disso, infelizmente. Mas era sabido que um aumento colossal de impostos apenas poderia servir como arma de recurso, tal como um bacteriostático, com todas as suas limitações, resistências e efeitos secundários.

    http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/detalhe/passos_medida_mais_sensata_para_combater_desemprego_e_baixar_salario_minimo.html

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  2. Terá sido a falta de memória de que ele se queixa que impediu o comentador de colocar em contexto as consequências políticas das medidas adoptadas por Brian Lenihan: nas eleições de Fevereiro de 2011 o seu partido (Fianna Fáil) passou de 41% para 17% dos votos e a sua representação parlamentar de 71 para 20 deputados. Quem geriu a intervenção da troika na Irlanda a partir daí foi o partido rival (o Fine Gael) com Michael Noonan a sobraçar a pasta das Finanças. Noonan que foi repetidamente descortês, deixando que se soubesse no exterior as suas críticas à atitude submissa do seu homólogo Gaspar.

    As medidas irlandesas poderão ter sido tomadas "sem esbarrarem em problemas de interpretação constitucional" simplesmente porque quem as tomou sabia que a constituição "estava lá". O argumento que o governo português vendeu só me faz lembrar a senhora que vai estacionar, choca no poste e depois queixa-se que o poste não se desviou... A quem interessar, a constituição irlandesa também tem as suas idiossincrasias: já foi revista 35 vezes, das quais 15 apenas nos últimos 15 anos e dessas, 4 foram a rejeitar e a aceitar tratados europeus (Nice e Lisboa). Ora imagine-se se cá por Portugal também a aceitação dos tratados europeus só produzisse efeitos por aceitação popular...

    Mas o substantivo do texto, que afinal o comentador prefere não comentar, é o indagar das razões porque é que, falando-se ainda de quando em vez, se ouve falar da Grécia e não pelas melhores razões, se deixou de ouvir falar da Irlanda, quando nesse caso ainda haverá boas razões para falar dela...

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