13 outubro 2015

É A IDEOLOGIA, ESTÚPIDO!

Diz-nos a Wikipedia que a frase original – É a economia, estúpido!foi criada por um estratega da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992. E diz-nos mais. Diz-nos que a frase passou a partir daí e dado o sucesso, a ser utilizada em contextos diferentes em que continua sempre reconhecível – exemplos(que recolhi de lá): É o défice, estúpido! São os eleitores, estúpido! Mas o que a Wikipedia não nos diz é como a frase original passou também a ser abusada e o seu sentido distorcido, invocando-se a economia completamente a despropósito, quando o contexto é ideológico. Assim, quando se lê É a economia, estúpido!, escrita, por exemplo, por um Camilo Lourenço ou um look-alike, há uma elevada probabilidade de se tratar apenas da utilização de alguns argumentos económicos, mas somente os específicos para se concluir inevitavelmente que não existem alternativas – o hegemónico TINA, que se tornou no sustentáculo ideológico principal do liberalismo dos nossos dias.
Por causa disso, consequência previsível das preocupações de quem as origina como da sofisticação daqueles a quem se destinam, a argumentação costuma ser, na esmagadora maioria das vezes, muito mal enjorcada. Exemplar disso, os destaques das páginas de economia do princípio desta semana vão todinhos para a reacção adversa de os mercados à perspectiva da formação de um governo que não será das suas simpatias mas tenho dificuldade em encontrar artigos mais desenvolvidos sobre os trabalhos de Angus Deacon, o vencedor do prémio Nobel da Economia, anunciado ontem. Compreende-se: é que embora haja, num dos raros artigos a esse respeito, quem qualifique o seu trabalho como sendo de difícil catalogação nos moldes ideológicos tradicionais, ele incide, segundo o mesmo autor, sobre a análise do consumo, da pobreza e do desenvolvimento. A pobreza então, essa não tem interesse nenhum... É caso para dizer que além da não ser a economia, estúpido!, seria outra estupidez presumir que seria para ser toda a economia, estúpido!

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