12 outubro 2015

O MANDATO DO TENENTE-CORONEL HENTSCH

Ainda a propósito da (primeira) Batalha do Marne existe um episódio controverso a ele associado que me fez lembrar imediatamente outro da história recente do nosso país. Devido à dificuldade de comunicação entre o Alto Comando alemão (OHL), sediado no Luxemburgo, e os comandos militares dos exércitos em operações, o general Helmuth von Moltke (1848-1916) decidiu-se a enviar para as frentes, como seu representante plenipotenciário, o tenente-coronel Richard Hentsch (1869-1918, acima), uma decisão que se tornou muito controversa. Por um lado, havia a tradição prussiana de conceder autonomia de decisão táctica ao comandante do exército em operações¹, por outro havia a questão do próprio protagonista, um tenente-coronel de 44 anos a supervisionar e a tratar como iguais coronéis-generais da mesma geração de von Moltke (von Kluck, à frente do I exército, e von Bülow, à frente do II, tinham ambos 68 anos) numa organização que é a definição da hierarquia. Ambos se recusaram a conferenciar pessoalmente com o enviado de Moltke, fazendo-se representar pelos respectivos chefes de estado-maior, von Kuhl e von Lauenstein, ambos generais (57 anos) e evidentemente ainda mais graduados que Hentsch. Ao recordar este episódio, marginal à verdadeira História mas interessante que baste para ainda hoje ser lembrado e porque as atitudes de subserviência em Portugal parecem enraizar-se, incólumes à crítica, adivinhem lá em quem é que eu pensei?...
¹ Uma tradição tão enraizada que ainda se mantinha na Guerra Mundial seguinte, quando foi justificação para inúmeros episódios de desentendimentos contra a aplicação do führerprinzip.

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