08 junho 2015

SOBRE A TOLERÂNCIA À AGRESSIVIDADE FEMININA


A pretexto da figura voluntariamente apalhaçada em que se transformou Paulo Futre permitam-me mostrar em contraste como, naquilo que já vi descrito como feminização da sociedade, os papéis mais agressivos de exposição mediática têm sido progressivamente entregues a mulheres. Como se a violência quando protagonizada pelos homens fosse demasiado passível de fugir ao controlo da realização e a mesma, quando no feminino, fosse mais previsível, mais amena e por isso tolerável. É assim que tenho fundadas dúvidas que um programa televisivo com o formato de Barca do Inferno com figuraças como Isabel Moreira, Raquel Varela ou Manuela Moura Guedes, em que se proferem afirmações muito violentas da forma mais assertiva possível, pudesse subsistir numa versão masculina: tenho a certeza que a opinião publicada destroçaria os convidados, qualificando-os de grunhos, machistas e tutti quanti, se entretanto uma discordância entre convidados não tivesse tido o mesmo impacto negativo, com os convidados à pera entre si. Em contraste, instalou-se uma tolerância complacente para com toda a assertividade mesmo que disparatada (abaixo, não há nada a dizer a não ser que é Raquel Varela...), desde que ela seja protagonizada por uma mulher, tolerância essa que se prolonga para o palco político, de que se podem escolher os exemplos de estilo de Teresa Leal Coelho, Paula Teixeira da Cruz, Assunção Cristas, Isabel Moreira e a sua grande rival Ana Gomes, ou Joana Amaral Dias vs. Ana Drago. E parece-me notar-se até uma intenção de atribuir esse mesmo género de papel a Maria Luís Albuquerque.

Adenda do dia seguinte: Nem de propósito, na noite do mesmo dia em que publiquei este poste, aconteceu que duas das figuraças do programa mencionado se pegaram com as consequências que se vêem abaixo:

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