25 maio 2015

VASCO, AS SUAS MEMÓRIAS AOS TRÊS ANOS E O DISCURSO DO FÜHRER QUE SE PERDEU

A família (...) estava à volta da telefonia, uma enorme caixa de metro e meio de altura, como (...) usavam as pessoas com dinheiro. O meu avô (...) tentava encontrar uma estação (...) a estação oficial alemã. De repente, apareceu uma voz (que depois soube que era a voz de Hitler) (...) Hitler anunciava uma ofensiva contra a linha aliada, que devia levar a Wehrmacht a Antuérpia e separar o exército inglês do exército americano. A família ficou esmagada e, tanto quanto me lembro, não houve um único comentário. Como não falava alemão, não percebi o que se passava. Mas de qualquer maneira o medo do meu avô, do meu pai e dos meus tios acabou também por se me pegar (...)

Todos sabemos quanto Vasco Pulido Valente é dotado. Quando conta estes pormenores de infância apercebemo-nos que, ainda com três anos, já ele se mostraria precocemente dotado. E, para mais, pertencia a uma família dotada: dotada em posses – possuía uma telefonia, adereço relativamente raro em 1944 – como dotada em conhecimento: avô, pai, tios eram todos suficientemente fluentes em alemão para acompanhar em directo um discurso do Führer sem trocarem comentários entre si. Ele é que ainda não falava alemão – percebe-se: ainda só tinha três anos. A descrição de Vasco Pulido Valente faz sentido com aquilo que se conhece daqueles dias. Excepto num pormenor. Nascido em Novembro de 1941, ele teria justamente completado os três anos quando a Ofensiva das Ardenas que aparece relatada teve lugar – a tentativa alemã de reconquistar Antuérpia, cravando uma cunha entre os 21º (anglo-canadiano) e 12º Grupo de Exércitos (norte-americano). A ofensiva começou em 16 de Dezembro de 1944. O episódio narrado por Vasco Pulido Valente terá assim ocorrido nos dias seguintes. O único problema é que eu não consigo encontrar esse famoso discurso radiofónico de Adolf Hitler ouvido pela família Pulido Valente. Fui procurá-lo, entre outras publicações, e porque as intervenções aos microfones por parte do Führer eram raras, a um compêndio on-line de 993 páginas com os discursos, alocuções e proclamações proferidas por Hitler entre 1922 e 1945 – incluindo até o testamento (redigido em 1945). Mas não encontrei nenhum discurso que se adequasse ao que infundiu tanto medo à família Pulido Valente.

Aqui já há uns anos (em Novembro de 2008) lembro-me que me diverti a troçar no blogue com uma aldrabice de José Sócrates que se pôs a inventar numa entrevista que, aos três anos, havia assistido a um debate televisivo que fora transmitido... mas apenas para os Estados Unidos. Mas Vasco Pulido Valente é diferente, pela sua reputação como historiador não me parece pessoa para inventar ter ouvido um discurso radiofónico que Adolf Hitler nunca proferiu...

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