31 março 2015

MALDIVAS E OS EFEITOS DE UM CASO DE TRINTA ANOS DE HEGEMONIA POLÍTICA INSULAR

As Maldivas são um país que nem importará saber onde fica a não ser que se esteja à procura de destinos de férias. Nesse aspecto, este arquipélago com 300 km² e 340.000 habitantes no Oceano Índico, situado quase em cima do Equador, é uma referência do que pode ser um local paradisíaco, deduza-se pelas fotografias anexas. Infelizmente e ao contrário do que acontece com o Paraíso original, o governo local não se tem caracterizado pela reconhecida bonomia de São Pedro. Em 2008, havia um presidente que já lá estava há 30 anos (Abdul Gayoom¹), quando houve oportunidade de realizar as primeiras eleições presidências livres. E Gayoom perdeu-as (em duas voltas) para um senhor chamado Mohamed Nasheed que recebeu 53,6% da votação popular. Acredita-se que os resultados eleitorais não agradaram às forças vivas locais. Em Fevereiro de 2012 Nasheed terá sido forçado a renunciar, sendo substituído interinamente pelo vice-presidente Whaeed Hassan. Nas eleições presidenciais que se seguiram, em Setembro de 2013, o derrubado Nasheed venceu-as mas alcançando apenas uma maioria relativa (45,4% dos votos), o que tornaria necessária uma segunda volta; o Supremo Tribunal anulou-as. Houve novas eleições em Novembro seguinte, Nasheed tornou a vencer a primeira volta (46,9%) mas perdeu a segunda volta (a decisiva) para o outro candidato (e novo presidente) Abdulla Yameen (51,4%),...
...por acaso um irmão mais novo de Abdul Gayoom (surpresa!), o ex-presidente que lá havia estado por 30 anos. Admitamos, ainda assim, que Mohamed Nasheed tem tido politicamente azar. Pois bem, recentemente ele teve ainda mais azar, porque o mês passado foi detido, julgado e condenado a 13 anos de prisão ao abrigo de uma lei anti-Terrorista. Mohamed Nasheed (além desta vocação terrorista) possui uma boa imagem internacional por causa das suas posições a respeito das consequências do aquecimento global (as Maldivas arriscam-se a ficar submersas com a subida do nível dos oceanos), mas isso não obstou a que o judiciário local – que se adivinha estar fortemente conotado com a facção Gayoom – tivesse procedido a uma condenação que é uma palhaçada. Trinta anos de poder indisputado no isolamento de um ambiente insular parecem conduzir a embriaguezes políticas deste cariz. Visto em perspectiva e quanto a políticas insulares, tantos foram os elogios à sua despedida que suspeito que ainda devemos agradecer a Alberto João Jardim por ter permitido uma transição tão suave na Madeira... ou então agradecer aos pais de Alberto João Jardim por não haver um irmão mais novo que lhe sucedesse.
¹ Eleito originalmente em 1978 com 93,0% dos votos, reeleito sucessivamente em 1983 (95,6%), 1988 (96,4%), 1993 (92,8%), 1998 (90,9%) e 2003 (90,3%). Um homem muito popular, como se depreenderá...

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