17 março 2015

A NOVILÍNGUA DESTES NOSSOS DIAS (ou como a maior queda da taxa de emprego pode ser distinta da maior subida da taxa de desemprego)

Desde há muito recordo que os parâmetros económicos por que um governo podia ser julgado eram a inflação, o desemprego e também o crescimento económico. Quanto ao segundo, desde que este governo tomou posse, talvez porque o emprego se tornou escasso, deixou de se falar exclusivamente de desemprego para se falar de emprego, sobretudo quando é conveniente não deixar explícito que ele, emprego, tem desaparecido. Só se os desempregados desaparecerem das estatísticas ao mesmo ritmo - já não recebem subsídio de desemprego, deixam de estar desempregados. Ainda há menos de um mês, a taxa de desemprego medida pelo INE havia baixado. E como é que isso apareceu noticiado? Taxa de desemprego baixou para 13,3% em Janeiro. Hoje, numa comparação da evolução do emprego à escala europeia no último trimestre de 2014, Portugal aparece como o país em que essa mesma taxa de desemprego mais aumentou. E como é que isso aparece noticiado? Taxa de emprego em Portugal com maior queda da Europa. Conclui-se que, quanto a estes assuntos de desemprego o que é importante é trabalhar a notícia para dar sempre a impressão que se está em queda. Em contraste, no que concerne à inflação, tanta terá sido a queda da dita que nos dias que correm deixou de haver inflação para haver deflação (inflação negativa), embora aí, porque o fenómeno é recente, os cultores desta novilíngua ainda não se mostrem preocupados com a manipulação alternativa dos dois termos em prol de uma forma(ta)ção das opiniões públicas. É sempre engraçado analisar este domínio da semântica económica feito por quem, não percebendo muito de economia, se especializou em compreender e manipular os estados de espírito daquelas.

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