05 novembro 2014

A TRISTE SINA DE SE QUERER SER ALEGRE

Convenço-me que, se o humor fosse uma tecnologia de ponta, Portugal reocuparia a posição mundial que ocupou no Século XVI. Continuaria a ser um país pequeno mas verdadeiramente qualificado como o era à época de Afonso de Albuquerque. Embarcando nesse sonho, Ricardo Araújo Pereira estaria muito bem visto na corte e prometido para um cargo de Vice-Rei na Índia - ah não, que ele é de esquerda e anticolonialista por isso... Porém, nem tudo seria assim favorável porque o humor que elegemos adequado aos dias correntes é verdadeiramente auto-flagelante (acima, uma glosa a acontecimentos recentes em Timor-Leste), dificilmente exportável, e por isso assimilável aos famosos bens não transacionáveis (aqueles que, no jargão da disciplina, não tornam a economia portuguesa mais competitiva). Para mais quanto estamos entalados entre duas opções estratégicas pouco atraentes: de um lado há o atlantismo tradicional dos últimos séculos, representada pela tutela britânica que, apesar de formada por gente com humor, tende a não compreender a ironia do nosso, julga que concordamos com eles e que estamos a falar a sério quando nos menosprezamos, ilude-se que que não sobra para eles, constate-se com o episódio recente do João Magueijo; do outro lado há a posição pró-continental, em consonância com a potência hegemónica, hoje constituída pela Alemanha, onde, pelo facto de ser alemã, tudo se torna mais simples: não há humor. Aliás, nós é que nunca nos habituámos a vê-lo assim, mas a extensa carreira de sucessos de Hermann von Krippahl em Portugal mais não passa do que de uma saga de um pobre expatriado alemão, impossibilitado de trabalhar no seu país de origem, tal qual um engenheiro civil português da actualidade...

1 comentário:

  1. A propósito da ultima parte do seu post, um amigo alemão, o para o caso não é de menosprezar fez-me, um dia, a seguinte pergunta:

    Sabes quais são os mais pequenos livros do mundo?
    Após alguns segundos de "embatucanço" meu, veio o esclarecimento:

    Um sobre heróis italianos;
    Outro sobre cozinha inglesa:
    e, last but not the least um livro de anedotas alemãs

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