08 outubro 2014

O RETRATO DO VELHO

A surpresa representada pelos resultados eleitorais das presidenciais brasileiras, depois de semanas a fio em que pareceu que a disputa principal se travava entre Dilma e Marina, faz-nos constatar o quanto o Brasil pode ser uma caixinha de surpresas... ou não. Tudo pode não ter passado de uma espécie de embriaguez da opinião publicada que se pensou intérprete de uma opinião pública que pura e simplesmente não pensava como ela. O episódio, esta antipatia/esquecimento pela candidatura de Aécio Neves porque o povo é de esquerda, recordou-me algo de semelhante que se passara 64 anos atrás. As eleições presidenciais brasileiras de 1950 foram dominadas pela presença de Getúlio Vargas (1882-1954), antigo presidente por 15 anos (1930-1945), metade dos quais (1937-1945) através um regime ditatorial designado por Estado Novo,...
...regime que se viera a tornar num anacronismo por ocasião da vitória dos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial. Getúlio fora então deposto por um golpe militar em Outubro de 1945 e não concorrera às eleições presidenciais que se seguiram em Dezembro desse ano, mas regressou nas seguintes de 1950. E diante de uma grande hostilidade: pelo que se podia ler na opinião publicada, Getúlio parecia representar o retorno a um passado caduco. Mas ganhou, apesar da idade (68 anos). E a marchinha que o promovia (Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar), não era desprovida de um certo escarnecimento do povão pelas elucubrações das elites que, pura e simplesmente, não queriam o velhinho de retorno àquele cargo.

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