21 agosto 2014

A BRIGADA SOVIÉTICA EM CUBA

No Verão de 1979 surgia um novo recrudescer das tensões entre os Estados Unidos e a União Soviética. Os primeiros sentiam-se fragilizados pela recente (Janeiro) deposição do Xá do Irão, um aliado de décadas, enquanto acusavam a segunda de estar a perturbar deliberadamente os equilíbrios da guerra-fria naquela região, ao apoiarem (em Março de 1978) um golpe de estado comunista naquele que fora até então o neutralizado Afeganistão. A alimentá-las, às tensões, surgem, não se sabe bem como, rumores nos corredores do aparelho de estado de que a União Soviética estacionara recentemente uma brigada de combate de 3.000 homens em Cuba. Após a crise dos misseis de Cuba do Outono de 1962, quando as duas superpotências estiveram à beira de um conflito nuclear, qualquer menção ao tema Cuba e presença soviética na ilha faria tocar todas as campainhas de alarme em Washington. Para mais, era praticamente do conhecimento público o acordo que então fora selado entre John F. Kennedy e Nikita Khrushchev: este último mandara retirar os mísseis e as armas nucleares que estacionara em Cuba contra a discreta promessa norte-americana de não promover o derrube do regime de Fidel Castro. 17 anos depois, a descoberta inopinada desta brigada assemelhava-se a uma iniciativa soviética de desafiar o status quo então firmado, aproveitando quiçá aquilo que parecia a fragilidade dos Estados Unidos.
Zbigniew Brzezinski, o conselheiro nacional de segurança de Jimmy Carter, deu instruções aos serviços de informações que descobrissem tudo o que pudessem a respeito da nova brigada soviética. Em meados de Agosto, a informação fora confirmada: havia de facto uma brigada soviética estacionada em Cuba. E essa informação escorregou para fora dos círculos governamentais, tornando-a um factor de combate político doméstico contra uma Administração Carter acusada de ser muito branda para com os comunistas. Todavia, a continuação das investigações vieram a revelar também, com uma transparência que as administrações norte-americanas nunca mais mostraram depois da de Carter, três aspectos embaraçosamente notáveis: em primeiro lugar, que Kennedy havia solicitado a retirada das tropas soviéticas de Cuba, mas que o pedido não fora feito com muita insistência nem fora posteriormente monitorizado; em segundo lugar, que a famosa brigada era uma unidade predominantemente de comando e serviços (portanto não combatente) que ficara encarregada de coordenar os milhares de instrutores que os soviéticos mantinham em Cuba para ensinar a operação do seu material aos cubanos; e em terceiro lugar, porventura o aspecto mais embaraçoso dos três, que a brigada já existia desde 1962, a sua existência já só se justificava pela inércia a que estas organizações são propensas, a gigantesca reconversão do exército cubano (62.000 efectivos em 1968) ao emprego de material de origem exclusivamente soviética que a tinha justificado já houvera tido lugar vários anos antes. Embaraços como este não terão deixado de reaparecer entre a comunidade dos serviços de informações nos 35 anos que se seguiram desde aí: o maior de todos terá mesmo sido a ineficácia de não terem conseguido antecipar o colapso da União Soviética. O que nunca mais se repetiu foi o seu conhecimento público, pelo menos com a candura e honestidade como este foi conhecido e debatido.

1 comentário:

  1. Nos últimos tempos (bem alargados) dou por mim a ter saudades da Guerra Fria.
    Nesses tempos sabíamos quem era quem, quem apoiava quem, os cães estavam presos ou de trela curta.
    Com o fim da União Soviética que, quanto a mim começou com a intervenção da URSS no Afeganistão, as coisas foram paulatinamente passando do claro para o translúcido e ultimamente para o completamente opaco.
    O mundo era perigoso naquela altura? Era, mas agora está mais.
    Os cães mordem a mão de quem lhes deu de comer durante tanto tempo e, ao mesmo tempo, mordem-se uns aos outros.
    Dou por mim a pensar que uma ditadura. num qualquer ponto do globo que não o nosso, é bom para toda gente incluindo os próprios.
    São pensamentos politicamente incorretos e de alguma maneira perigosos mas que me atravessa o espírito, atravessa.

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