04 julho 2014

RUI TOVAR E «A VERDADE A QUE TIVEMOS DIREITO»


Evocando o recém-falecido Rui Tovar, o meu momento é o do jogo Portugal – União Soviética, disputado a 13 de Novembro de 1983 no estádio da Luz e que terminou com uma vitória portuguesa por 1-0 na conversão de um penalti que apenas o árbitro viu (acima). Portugal viu-se assim apurado para o Europeu que se disputaria no Verão seguinte em França, mas isso são outras histórias. O que retive foi a tentativa feita por Rui Tovar da RTP para entrevistar alguém do banco soviético onde se deparou com uma colecção de caras patibulares e expressões hostis, então tão típicas de qualquer delegação desportiva soviética no estrangeiro.
Nada mais restou a Rui Tovar senão resignar-se àquele silêncio, resignação que rematou com um irónico por esta vez, foi a verdade a que tivemos direito… A verdade a que temos direito era o slogan de o diário, um matutino da época, o jornal não partidário mais enfeudado às posições oficiais do PCP. Além disso, o slogan prestava-se obviamente a uma dupla leitura e era, por isso, motivo de troça. Mas a razão para ainda hoje recordar o episódio e Rui Tovar é o quanto nove anos e meio depois de Abril ainda era ousado e inusitado fazer assim troça do quadradismo e do secretismo do PCP e de tudo aquilo que a organização prezava.

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