11 julho 2014

O VALOR SOCIAL DO TRABALHO ou O FERRARI DO POLÍCIA DE GIRO

Tem vezes que uma notícia prosaica, quase um fait-divers, tem um potencial tremendo de reflexão ideológica: há um polícia anónimo, a quem a fortuna teria bafejado com um prémio multimilionário do Euromilhões, que preferiu prosseguir a sua carreira profissional em vez de usufruir dos rendimentos. Como se pode ler mais abaixo, a notícia só se tornou notícia porque a mãe, que foi a pessoa realmente contemplada, resolveu presentear o filho com duas viaturas de alta cilindrada e topo de gama, muito para além das aparentes capacidades financeiras de qualquer polícia. O episódio despertou suspeitas que houve que desfazer. O valor de uma carreira terá sempre um valor intangível mas neste caso concreto e para este polícia que prefere continuar anónimo a valoração parece ser bastante alta, consideradas as opções.
O episódio torna-se tanto mais significativo quando o relacionamos com a destruição de emprego que tem vindo a ter lugar em Portugal nestes últimos anos e, mais do que com essa destruição, com a atitude sobranceira como ela tem vindo a ser tratada pelo poder político e pela entourage académica que o suporta, atapetada por velhas filosofias recuperadas como a da destruição criativa do economista austríaco Joseph Schumpeter. Com este exemplo de um (previsível) Ferrari do polícia de giro português parece provar-se concretamente que haverá pessoas comuns avessas às virtudes da destruição, que conseguem demonstrar na prática, e sem quaisquer pretensões de filosofar por outros, que para elas ter um emprego e prosseguir uma carreira, pode equivaler a muitos milhares

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