05 maio 2014

SOBRE E SUBQUALIFICAÇÃO E DESAJUSTAMENTO LABORAL

Segundo nos informa a agência Lusa, a Comissão Europeia destaca que em Portugal há um desajustamento crescente entre as características dos trabalhadores à procura de emprego e as necessidades das empresas que contratam. E a noticia especifica: A Comissão Europeia afirmou hoje que as empresas da zona euro têm dificuldades em encontrar trabalhadores, apesar do elevado desemprego, destacando que há em Portugal um desajustamento entre as competências dos trabalhadores e as procuradas pelas empresas.

Aliás, de uma forma ainda mais concreta, uma notícia que parecia ter tido origem no IEFP e que ontem foi publicada no Expresso, anunciava que em Portugal tem havido em média e por mês 5737 ofertas de emprego por preencher. E apresentava até um exemplo concreto: “A área da agricultura é uma das mais afectadas pela falta de mão-de-obra, razão pela qual muitos empresários recorrem a estrangeiros para trabalhar. Na Hortomelão, que no pico das colheitas emprega 600 pessoas, 90% são estrangeiras, pela simples razão de que os portugueses não querem trabalhar nas tarefas disponibilizadas. Carlos Ferreira, director executivo da empresa, recorda a má experiência que teve ao procurar um centro de emprego no Alentejo: «apresentaram-me 900 pessoas potenciais interessadas. Pedi para fazerem uma triagem e propuseram-me 600. Insisti para que apurassem o processo de selecção e acabaram por me apresentar 90 interessados. Passámos uma semana a fazer entrevistas e só 30 aceitaram. No entanto, só 15 se apresentaram ao trabalho. Foram inventando desculpas e, resultado, ficámos apenas com uma pessoa ...que era estrangeira».

Temos aqui um excelente exemplo das realidades que se podem esconder atrás do discurso burocrático vindo de Bruxelas: é que, no desajustamento das competências dos trabalhadores inicialmente descrito, há que constatar neste caso concreto referido pelo IEFP e pelo Expresso que para apanhar fruta nem sequer é preciso ser alfabetizado... Há portanto uma sobrequalificação dos trabalhadores que, para aquela função, até dispensariam os anos de escolaridade acima dos quatro básicos (que se devem ministrar a qualquer cidadão, para saber desenhar o nome...). Com menos ironia, vale a pena acrescentar que este é o género de anacronismo que é politicamente muito mais difícil de explicar e onde Bruxelas prefere não se envolver…

Permitam-me adiantar ainda assim, que eu não estou assim tão convencido que muitos desempregados se preocupem profundamente com esse problema da sobrequalificação: para dar pontapés numa bola num campo de futebol também não é preciso ser-se particularmente alfabetizado e isso em Portugal é actividade para a qual há uma imensa procura. Só que nela, apesar das vicissitudes, há a perspectiva de se vir a ser mais bem pago do que a apanhar fruta…e aí, como se vê pelo exemplo de Cristiano Ronaldo, parece haver mesmo alguma meritocracia. Em contrapartida, e regressando a Bruxelas, à Comissão Europeia e a outro português de notoriedade, no caso do presidente daquela vale a pena identificar a subqualificação quando há ali alguém que se distinguiu mais pela manha do que pelo mérito quando teve a ocasião de ocupar o cargo, escapulindo-se às contrariedades no posto a que se candidatara e para o qual fora anteriormente eleito.

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