24 abril 2014

TSF: «VÃO DAR BANHO AO CÃO!»


Já foi há mais de dez anos que Lili Caneças irrompeu por um programa televisivo de Herman José mostrando-se agastada com a forma como ali era repetidamente tratada. Aparentemente a coisa teve algum impacto no rating de audiências de um programa que por aqueles dias se arrastaria penosamente, com o povão, mais uma vez e não pela última vez, saturado do Herman. Uma revisão atenta da cena contudo, é demonstrativa de como a cena foi consertada, com a câmara a seguir Lili Caneças logo desde a sua entrada em cena, confirmando, para lá de qualquer dúvida, que o realizador e o operador a conheciam de antemão. As discussões que depois pudessem existir sobre a veracidade da cena são, por um lado, elogios implícitos à capacidade dramática da amadora Lili Caneças, e por outro, demonstrações de até aonde pode ir a obtusidade daqueles que não se disponham a ver o que é óbvio. Haverá hoje quem esteja ainda convencido que Vale e Azevedo foi um excelente presidente para o Benfica. Mas o que é importante destacar neste caso é como o episódio nos educou no cepticismo para outras encenações do mesmo género.
A notícia do dia – sobretudo para a TSF – é que os seus estúdios foram ocupados esta manhã, por volta das 8H30, por um grupo de mais de 50 pessoas que, empunhando livros, entre os quais a Constituição da República Portuguesa, exigindo que se cumprisse o Direito à Liberdade de Expressão, dando voz às minorias. Expressões que identificam o grupo como um grupo de homens e mulheres de várias idades que garante não ter qualquer filiação partidária fazem-me lembrar, veterano que gosta de se lembrar do PREC, aquelas manifestações rigorosamente apartidárias dessa época que eram convocadas por comissões de trabalhadores, de moradores e outras organizações populares de base... Mas, curiosa mesmo, é a escolha da hora por parte destes ocupantes que, como os conspiradores dos golpes de Estado (esta minha associação deve ter a ver com a proximidade do 25 de Abril), gostam de se concentrar assim pela fresquinha da manhã, fenómeno que não terá decerto nada a ver com as recentes contratações de peso da concorrência para programas àquela mesma hora ­– estou-me a lembrar, por exemplo, da de Ricardo Araújo Pereira para a Rádio Comercial. Agora mais a sério, oh estrategas do marketing da TSF: e se fossem dar banho ao cão?...
Adenda: Só seis horas depois de ter tido lugar é que a TSF veio a noticiar a sua "ocupação" com as aspas que devia ter tido desde o princípio. Entretanto, pude ler no facebook comentários levando o incidente a sério que imagino o quanto envergonharão agora quem os escreveu. A leitura daqueles disparates faz-me lembrar o episódio da transmissão da Guerra dos Mundos na CBS norte-americana em 1938 que alegadamente terá provocado um pânico que levou centenas de milhares a fugir - embora nunca se explique para onde... Costuma ser referido como um exemplo do poder mediático. Mas considero-o mais um exemplo da infinitividade da Estupidez Colectiva que, como se vê pelos exemplos acima, é muito fácil de reencenar.

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