09 novembro 2013

«WE SHALL FIGHT ON THE BEACHES,... WE SHALL NEVER SURRENDER»

Creio que todos nós, como membros de uma sociedade, quando confrontados com situações excepcionais de sacrífico, podemos perceber que haja algumas razões para que nem toda a Verdade nos deva ser dita, atendendo às circunstâncias pelas quais esses mesmos sacrifícios excepcionais nos estão a ser pedidos. Tomemos o exemplo extremo da Guerra, com a inevitável mobilização dos recursos humanos e materiais e a contenção forçada dos consumos através dos racionamentos. Podemos esperar - e é natural - que, com ela, haja uma retórica da estratégia por parte dos líderes políticos (acima é uma citação do famoso discurso de Churchill de Junho de 1940), mas compreende-se que ali e também noutras circunstâncias similares alguns detalhes da táctica tivessem de ser mantidos em segredo: os desembarques na Normandia, por exemplo, só foram anunciados ao povo britânico por Churchill depois de terem tido lugar…

Mas, compreendendo essas excepções tácticas, não se compreende que o secretismo se transforme numa regra, especialmente quanto, no actual caso português, é a própria retórica da estratégia (com referências a datas simbólicas como 1640) a realçar-nos, membros da sociedade, a excepcionalidade da situação que se vive e, consequentemente, dos sacrifícios que nos estão a ser pedidos, a mereceram a nossa compreensão à altura das circunstâncias. O que se torna inadmissível neste contexto é ouvir figuras de estatura menor (mas influência superior) do elenco governativo a gabarem-se da sua modéstia ao não publicitar as suas batalhas negociais contra a troika. Em primeiro lugar porque esta exibição de modéstia de Carlos Moedas não se coaduna com a exibição de arrogância do mesmo Carlos Moedas que há dois anos e meio assegurava que as agências de rating iriam subir a notação portuguesa com a ascensão do PSD ao poder¹.

Talvez o exercício do poder tenha propiciado a Carlos Moedas um oportuno duche frio de modéstia, mas os custos com a educação da sua personalidade nem sequer são o aspecto mais importante do problema. Esse é a opacidade como as negociações entre o governo de que faz parte e a troika têm decorrido, como se se tratassem de planos de campanha abrangidas por uma espécie de segredo militar, secretismo que este governo faz gala em preservar. Ainda hoje, e só de uma forma difusa, se percebe que houve muitos problemas com o encerramento da 7ª avaliação em Março deste ano, embora os suportes documentais de todas elas (avaliações) sejam de uma esterilidade confrangedora. Mas o facto do governo não as complementar para a comunicação social com oportunas fugas de informação sobre as negociações só pode ter uma leitura política: a de o governo que não pode (ou não quer) delas extrair vantagens internas.

Em qualquer das duas hipóteses acima o comportamento governamental caracterizar-se-á pela falta de poder em relação à organização que federa os credores, mormente agravado pela secundarização que ele atribui à prestação de contas à sua própria opinião pública, ao próprio eleitorado. Será isso que ninguém perdoa - e que eu creio que ninguém deve perdoar. Quando Carlos Moedas dá uma entrevista a uma rádio e parece precisar de realçar a sua autonomia de pensamento em relação à política financeira imposta do exterior, como se andássemos todos enganados ao fim de dois anos e meio, agarrando-se a – numa expressão muito do agrado do avuncular Eduardo Catroga – um pentelho, nem se deve estar a aperceber, obtusamente, que nos está a dizer tudo o resto. Olhem, é como se eu acabasse este texto a dizer que, num aspecto ou noutro, eu até estou de acordo com a conduta governamental de Carlos Moedas…

¹ Com as reformas que o PSD vai implementar, eu digo-lhe que ainda vão subir o 'rating', não sei se nos próximos 6 meses, se nos próximos 12 meses -- ainda não se sabe quando haverá um novo Governo. Mas 29 meses depois da posse do tal governo os ratings mantêm-se. Ontem, criou-se um grande espavento, mas a Moody’s melhorou apenas a perspectiva portuguesa de negativa para estável.

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