15 abril 2013

FOTO-OPORTUNIDADES

Este conjunto de fotografias têm uma localização e uma data precisas: a embaixada britânica no Cairo em 20 de Fevereiro de 1955. Na realidade, foi apenas por aquela vez que Anthony Eden e Gamal Abdel Nasser se encontraram pessoalmente para um jantar de cerimónia a convite do embaixador britânico. O terceiro das fotografias era assim o anfitrião, Ralph Stevenson, na altura embaixador de sua majestade em terras dos faraó já com cinco anos na função. O primeiro-ministro britânico teve oportunidade de surpreender o seu jovem convidado (37 anos), uma estrela em ascensão no firmamento da política egípcia e do mundo árabe que importava cortejar, saudando-o num arábico aceitável, uma habilidade adquirida numa longa carreira no Foreign Office.
Porém, quando da pequena conversa informal que se seguiu, os ressentimentos dos setenta anos de regime equívoco, semi-colonial, do passado vieram à superfície. Quando Eden perguntou a Nasser se era a primeira vez que vinha à embaixada do seu país, este respondeu que sim, que tinha curiosidade em ver o sítio de onde o Egipto havia sido governado. Governado não, aconselhado talvez, foi a correcção aveludada de Anthony Eden. Porém, depois da farpa, vê-se que a iniciativa de agarrar efusivamente as mãos do interlocutor para as fotografias é de Nasser, num gesto que, de resto, só poderia ter significado para observadores árabes e nenhum para os distanciados leitores anglo-saxónicos, que se detestam tocar mais do que o indispensável.
Quem conhece a História saberá que o interesse da ocasião advém dela se ter tornado o preâmbulo de uma rota de colisãorefinada por uma feroz animosidade pessoal – entre os dois homens que se viriam a defrontar na Crise do Suez que virá a ocorrer dali por 20 meses, em Outubro de 1956. Este último episódio marcou o fim da carreira política de Anthony Eden. Especule-se agora, se não serão precedentes históricos como os descritos acima que poderão chamar-nos a atenção para a valia de foto-oportunidades como a exibida mais baixo (que à época - Junho de 2011 - nos terá parecido tão sensaboronamente banal…), mas que agora nos parece poder ser a percursora de uma das mais exuberantes antipatias pessoais da política portuguesa neste princípio do Século XXI.

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