11 abril 2013

A BD E AS REVOLUÇÕES LATINO-AMERICANAS

Algumas frases mais exaltadas que leio por aí fazem-me lembrar o cenário de Tormenta sobre Coronado, uma aventura de BD de Bernard Prince de 1967. Passa-se num país imaginário da América Latina (uma das localizações favoritas para as aventuras da série) e a insurreição em que os heróis se vêm envolvidos é das canónicas (acima), com o povo em armas enfrentando frontalmente (e derrotando) as forças militares repressivas para assaltar o palácio que é guarnecido por soldados envergando uniformes de gala de uma outra época, símbolo do anacronismo do poder que irá ser derrubado. Dificilmente se pode encontrar contraste maior em Tintin e os Pícaros de 1976, passado noutro país latino-americano imaginário, em que a Revolução é protagonizada agora por uma vanguarda combatente esclarecida de inspiração castrista mas onde o lirismo da aventura anterior foi substituído pelo cinismo que se mostra tão bem sintetizado nestas duas imagens, a da chegada e a da partida dos heróis, sugerindo que a Revolução pode não passar de uma mudança das aparências, dos cartazes e dos uniformes.

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