24 agosto 2012

MINISTROS COM PASTA E SEM ELA

O aparecimento da categoria de ministro sem pasta é uma das menos conhecidas Conquistas de Abril... Houve entre três e quatro ministros exibindo essa categoria bizarra em qualquer dos primeiros governos provisórios durante 1974 e 1975. As razões para a existência de uma tal figura paradoxal, a de um ministro que usufrui do estatuto sem o encargo das responsabilidades específicas de um pelouro, explicam-se normalmente pela atribuição de posições de visibilidade a conselheiros políticos destacados (seria o caso de Sá Carneiro no governo Palma Carlos) ou a líderes de organizações reputadas importantes de manter integradas na área governamental (seria o caso de Álvaro Cunhal – acima – em todos os primeiros quatro governos provisórios).
O que nos interessa para esta história é que a inovação política/administrativa bem depressa foi transposta para a realidade das colónias portuguesas, então envolvidas em complicados processos de transição para as respectivas independências. Os governos de transição que tomaram posse nas colónias em vias de o deixar de ser tinham também a sua quota de ministros sem pasta (ou equivalente), especialmente em Angola (acima) onde se disputavam três movimentos: FNLA, MPLA e UNITA. E lá surgiu a piada entre os brancos locais, que, naqueles tempos de transformações, se consolavam do seu analfabetismo político gozando com o dos negros: pergunta um mano para outro: Ouve lá, tu querias ser ministro com pasta ou sem pasta?Com pasta, claro!
(A última fotografia é de Malick Sidibé.)

1 comentário:

  1. Foi um hábito que ficou. Daí o ministro sem pasta deste governo - António Borges.

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