01 julho 2012

VASCO, HERÓI DE UMA ÓPERA POUCO FAMOSA

 É melhor começar por confessar que não gosto particularmente de ópera e que os meus conhecimentos sobre o assunto reflectem essa apreciação. Chegam porém para destacar a curiosidade da existência de uma ópera do Século XIX que tem o navegador português Vasco da Gama por protagonista – que é, de resto, o único dos nossos Vascos¹ que possui uma verdadeira (e merecida) projecção internacional… O compositor da música dessa ópera foi um nome hoje esquecido na constelação musical dos compositores do Século XIX, um berlinense de ascendência judaica chamado Jakob Meyerbeer (acima, 1791-1864) enquanto o autor do libreto é um outro nome actualmente votado ao esquecimento, um poeta lírico francês chamado Eugène Scribe (1791-1861).
Curiosamente, a obra de que falo é duplamente póstuma pois quando foi estreada em Paris em 1865 sob o título de A Africana os dois autores já tinham falecido. Trata-se de uma ópera em cinco actos. O herói é Vasco da Gama (um tenor), que tem uma amada, Dona Inês, mas em que existe também uma heroína trágica que o ama, oriunda das novas ilhas por si descobertas, a escrava (mas também rainha) Sélika (ambas sopranos). Nélusko, que também foi capturado como escravo, é o conselheiro desta última e a alma danada de todo o enredo (adequadamente: um barítono). A ópera foi apropriadamente estreada na Paris do II Império de Napoleão IIIum regime que era em si uma gigantesca mise en scéne – e ainda nesse ano levada à cena noutras cidades.

Embora tivesse cavalgado a onda da moda de Paris sob Luís Filipe e Napoleão III (1830-1871), Meyerbeer e Scribe tornaram-se nomes menores da História da Música e da Literatura. Est'A Africana (e o resto da sua obra conjunta) raramente têm sido produzidos – também talvez pela grandiosidade com que haviam sido originalmente concebidos: no caso em destaque, o terceiro acto incluía um naufrágio… O que se tem mantido no reportório é uma ária do quarto acto em que Vasco da Gama gaba as belezas naturais da ilha que havia descoberto. Intitula-se Oh Paraíso! e podemo-la apreciar acima, cantada por Carlo Bergonzi num registo mais clássico (1969) ou então noutro registo mais moderno, o de tenor superstar, cantada por Luciano Pavarotti (1991).          

¹ Comparando-o, por exemplo, com os muito badalados Vascos da actualidade ou de um passado recente: Gonçalves, Lourenço, Graça Moura ou Correia Guedes.

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