23 outubro 2011

MEMÓRIAS E AMNÉSIAS – A EDUCAÇÃO NO ESTADO NOVO E NA ALEMANHA ORIENTAL – 2

Este primeiro caso é o de uma escola primária, uma fotografia de 1963, onde se notam, ao fundo, afixados os Dez Mandamentos da Moral Socialista que foram conclusões do 6º Congresso do Partido Socialista Unificado (SED) de 1958. Abaixo pode ainda ler-se Nós amamos a nossa República. Com Walter Ulbricht para a felicidade da Alemanha. Será que isto é assim tão diferente daqueles cartazes com as Lições de Salazar que estão afixados na parede da sala de aula naquela outra fotografia mais acima? Ou é a ausência de referências ao partido (União Nacional) que fará a diferença?
Continuando nas idades mais jovens aprecie-se aquilo a que aqui já me referi como o equivalente socialista da Mocidade Portuguesa, a Organização dos Pioneiros Ernst Thälmann que enquadrava as crianças dos 6 aos 14 anos. Ao contrário da Mocidade, onde o uniforme era completo, neste caso ele era simplificado: apenas a camisa branca e o lenço identificativo, de cor azul ou vermelha conforme o grau de senioridade. Porém, em contrapartida, o regime leste-alemão reclamava uma taxa de adesão de 98 a 99% de voluntários entre as crianças daquela idade, algo que em Portugal foi sempre uma miragem (ninguém gramava a bufa)…
Outro momento típico de um regime com ambições totalitárias era a cerimónia pública denominada Jugendweihe (acima em Berlim em 1979) para as crianças que terminavam o 8º ano de escolaridade (cerca dos 14 anos), uma espécie de pré-iniciação à vida adulta, um crisma secular, que era dispensável em Portugal dada a cumplicidade entre o regime e a Igreja e muito criticado pelas Igrejas alemãs. É evidente que a cerimónia, pretendendo demonstrar uma preocupação cívica, era tudo menos politicamente neutra. No painel detrás pode ler-se: Tudo fazer para o bem do povo – é o propósito do socialismo.

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