04 junho 2011

QUER O PS, QUER O PCP, QUER O CDS, QUER O PPD…

Ao longo de alguns Verões de meados da década de 70, mesmo diante da casa que fora de meus bisavós, o feirante da barraca das casssetes pirata repetia constantemente nos altifalantes – entremeado com outros sucessos musicais do momento como a Mala de Cartão da Linda de Suza – a canção que se pode ouvir mais abaixo. Conhecendo-a de cor à custa daquelas infindas repetições, nunca lhe conheci título nem autor e, não fosse o acaso de a ter visto ontem num blogue como alusão ao período de reflexão eleitoral em que nos encontramos, continuaria nessa ignorância não propriamente inquietante. Passados tantos anos, vale a pena ouvir com atenção a letra daquela que agora descobri ser a Chula dos Partidos da autoria de Artur Gonçalves.

É um excelente exemplar do que alguém, que se pode reconhecer estar devidamente integrado no espírito do processo revolucionário em curso daquela época (o famoso PREC), podia produzir quanto se esforçava para tentar assumir uma atitude neutral, menos engajadamente revolucionária. Assim, se prestarem atenção, enquanto as piadas iniciais, referentes aos dois partidos da esquerda (PS e PCP) são duas alusões inócuas e desenxabidas aos respectivos símbolos partidários (qualquer coisa a ver com uma figa e um martelo na pinha...), as referentes aos dois partidos da direita (PPD e CDS) são duas alusões um pouco mais carregadas, ao facto de uns serem uns filhos da puta e dos outros quererem que o empregado se foda

É toda uma arrogância de um certo proletariado urbano daquela época que usurpava só para si a designação de povo esquecendo o resto dele, num daqueles excessos revolucionários que também vale a pena civicamente não apagar da memória

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