22 janeiro 2011

S & D

(O poste é para ser lido ao som dos Buffalo Springfield: For What It's Worth)

A Guerra do Vietname foi fotografada milhares de vezes. Desses milhares de imagens resultaram talvez uma dúzia de fotografias que se tornaram icónicas. Algumas delas já aqui mostrei no blogue, mas faltava-me aquela que, não se contando entre as mais famosas, é aquela que considero melhor descrever a Guerra do Vietname, numa conjugação feliz entre a forma como as operações eram conduzidas no terreno e também como metáfora da forma como o envolvimento norte-americano no Vietname foi sendo gerido politicamente. Não sei quem é o autor mas baptizei a fotografia de S & D. S & D é a abreviatura de Search and Destroy (que se traduz por Busca e Destruição), o nome com que o comando norte-americano baptizou o processo com que pretendeu conduzir as operações de contra-guerrilha.

Unidades de infantaria partiam em patrulhamento para a selva nos locais onde se sabia que o inimigo (Vietcong) se havia refugiado para o encontrarem e o destruírem com o seu superior poder de fogo. Frequentemente, faltavam aos soldados norte-americanos não só a rusticidade como sobretudo a capacidade de sofrimento para enfrentarem em pé de igualdade com os guerrilheiros que perseguiam as condições adversas do terreno e clima vietnamitas. Este instantâneo de um grupo de combate que se enfiou penosamente pelo meio de uma área alagada sob uma pesada chuva tropical mostra isso e não só… O formato curvo da coluna parece indicar que quem a dirigia não tinha ideia alguma para que sítio da outra margem se dirigiria, numa metáfora perfeita do envolvimento norte-americano na questão vietnamita…

1 comentário:

  1. Esta fotografia fez-me recordar os meus tempos na guerra colonial, no território da Guiné Bissau.
    A minha guerra durou de jan 1971 a jan 1973.
    Muitas vezes atalhávamos através dos arrozais para evitar pisar as minas que o pessoal do PAIGC deixava nos trilhos.
    Nunca esquecerei a sensação de angústia que nos invadia quando percorríamos a mata, sempre à espera de pisar uma mina ou de ser emboscado.
    E, à medida que o tempo ia passando, cada vez nos custava mais sair para o mato.
    Quando fizemos a última operação, estávamos todos cheios de maus pressentimentos.
    Eu escrevi a habitual carta de despedida que deixava a algum camarada que não saísse para o mato.
    Felizmente, os tais pressentimentos não se concretizaram e regressámos sãos e salvos.
    E eu rasgava mais uma carta desnecessária.

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