28 dezembro 2010

O INCIDENTE NAVAL DO MAR NEGRO DE FEVEREIRO DE 1988

Já aqui me referi num poste dedicado ao Mar Negro às suas peculiaridades geográficas que fazem com que a Rússia, tendo de ceder os direitos de trânsito para o Mediterrâneo à Turquia (através de Istambul e do Estreito do Bósforo – veja-se o mapa acima), nem por isso deixa de ser sempre muito ciosa sobre quem essa sua rival permite a entrada no Mar Negro, um Mar que ela considera como uma espécie de clube privado reservado aos países ribeirinhos, que durante o período da Guerra-Fria eram aliás todos seus aliados – com excepção dessa mesma aborrecida Turquia, que pertencia à NATO
USS Yorktown tornou-se um nome de respeito na História da marinha de guerra norte-americana depois de um porta-aviões com esse nome ter participado nas duas primeiras batalhas aeronavais da Guerra do Pacífico tendo sido afundado após a segunda mas só depois da missão cumprida (Midway). Em 1988, esse nome respeitável fora atribuído a um Cruzador (acima) estacionado em águas mediterrânicas (Sexta Esquadra) que fora incumbido de encabeçar uma Força Tarefa norte-americana que, penetrando no Mar Negro (com a obrigatória permissão turca), tinha por missão principal chatear os russos.
Chateava-se os russos, exercendo o designado direito de passagem inocente (aqui, artº 17) - ao ser protagonizado por um navio de guerra, seria tudo menos inocente… - atravessando as águas territoriais soviéticas, um direito que se englobava no quadro mais vasto da liberdade de circulação marítima, expressa num dos artigos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 (acima). Nem de propósito, reforçando a hipocrisia da atitude norte-americana, os Estados Unidos não haviam ratificado (e ainda hoje não o fizeram…) essa Convenção de que se aproveitavam para invocar alguns artigos.
Desde a sua entrada no Mar Negro que os soviéticos adivinhavam as intenções norte-americanas e quando o Cruzador Yorktown pretendeu entrar inocentemente em águas territoriais soviéticas a Fragata Bezzavetny (acima), que fazia parte das unidades navais encarregues de marcar as suas rivais, colocou-se ao seu lado tentando bloquear-lhe o rumo, produzindo imagens espectaculares (veja-se o vídeo abaixo, filmado a partir da perspectiva do Yorktown) de duas unidades navais hostis navegando perigosamente próximas e acabando com a Fragata soviética a abalroar o Cruzador norte-americano.
Como de costume, as imagens do outro lado eram muito diferentes (abaixo) e nela se vê uma pequena Fragata soviética (à direita), qual David, a desafiar corajosamente o Golias (Cruzador) norte-americano, muito maior. O episódio é considerado o último incidente militar da Guerra-Fria e está hoje completamente esquecido. Para terminar, tirar-se-á uma conclusão que não deixa de ser significativa quanto às razões das duas partes com o facto de não ter encontrado na Internet qualquer página em inglês onde, como aqui fiz, se analisasse este incidente com algum detalhe, ao contrário do que acontece com esta página em russo

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