18 outubro 2010

A FICÇÃO E A REALIDADE

Por causa de um episódio recente, lembrei-me de um serão no princípio da década de 70 em que a RTP transmitiu um filme israelita. O que inicialmente me prendeu a atenção foi o genérico e o exotismo do alfabeto hebraico (acima) com as letras dispostas ao contrário – lê-se da direita para a esquerda. Depois, a história do filme, que tive de ir agora investigar como se chamava (O Canal Blaumich - תעלת בלאומילך ) envolveu-me. Tratava-se de uma comédia, embora sóbria e de um humor subtil. Um internado com uma compulsão para escavações escapa de um asilo de Tel-Aviv e, apoderando-se de uma perfuradora hidráulica, começa a fazer um enorme buraco bem no meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade.

O buraco foi aumentando em pleno dia no meio de um vazio de responsabilidades das autoridades municipais sobre a quem se devia atribuir a responsabilidade daquela obra (legal pois claro!, não estava a ser feita à frente de todos?) até que, contando já com o auxílio da polícia para gerir o caos no trânsito e aumentado com os próprios meios municipais, ele acaba por se transformar num enorme canal depois de ser invadido pelas águas do Mediterrâneo. No final da história, estando-se em ano de eleições municipais, a edilidade prefere não se dar por achada e acaba por inaugurar o buraco que está agora cheio de água proclamando ter transformado Tel-Aviv na nova Veneza do Médio Oriente!…
Por causa daquele filme, passei a prestar uma outra atenção àqueles buracos que, entre nós, se cavam casualmente pelas ruas ou à beira da estrada para instalar nunca se sabe muito bem o quê, assim como à razoabilidade dos vários sinais de trânsito que ali se costumam colocar limitando a velocidade a uns ridículos 20 ou 30 km/h (que ninguém cumpre) ou então aos gradeamentos condicionando os acessos dos peões e automóveis a espaços públicos num ambiente auto-gestionário. É uma actividade que se adivinha regulamentada por toneladas de legislação mas onde as evidências nos mostram que o poder caiu literalmente à rua – ou mesmo para debaixo dela no caso das escavações mais profundas…

O episódio recente a que me referi acima foi o de uma expedição clandestina de um grupo que a EMELessa inimiga pública da sociedade!... – denominou de vândalos, que marcaram numa noite todos os lugares de estacionamento dum parque da baixa de Lisboa como reservados para deficientes (abaixo). O gang pecou por excesso e exuberância. Porque ninguém tem dúvidas que, se lá tivessem ido de dia, com uns papéis forjados, com um engenheiro (i.e., alguém de fato e gravata e um capacete industrial na cabeça…) a chefiá-los e se tivessem limitado a pintar umas três ou quatro cadeirinhas, ninguém teria dado por nada e, se instada, ainda poderíamos ter o bónus da EMEL se orgulhar da sua atenção para com os deficientes…

2 comentários:

  1. Se tivessem feito as pinturas no estacionamento da Assembleia da República, ninguém tinha estranhado!

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  2. Muito obrigado pela sua investigação.
    Eu também vi o filme mas não conseguia achar qualquer referencia ao mesmo. O filme é engraçadissimo e costumo apontá-lo como um exemplo de verdadeiro "non sence".
    Cumprimentos

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