04 junho 2010

AS MEIAS DÚZIAS DE GOLEGAS QUE NÃO QUEREM SER CHATOS…

Referindo-me ainda ao artigo de São José Almeida, preferi-la-ia lê-la inquietada, tanto quanto com os revisionismos, e para além da ideologia dos historiadores, sobretudo com o rigor científico da produção histórica que se vai publicando sobre aquele mesmo período do Século XX. É que, como país pequeno e com um meio científico à mesma escala, são sempre poucos os verdadeiros especialistas sobre um tema demasiado específico. Para mais, quando é da nossa natureza social evitar ser chato, demasiado rigoroso nas críticas que se fazem aos colegas. O resultado final pode traduzir-se numa condescendência excessiva quanto ao rigor científico daquilo que se publica e que pode ser exemplificado pelo exemplo das legendas das duas fotografias abaixo, que foram retiradas de um livro com algum sucesso editorial sobre a participação de Portugal na Grande Guerra que foi publicado recentemente:
Neste primeiro caso, o senhor que cumprimenta o General Tamagnini (que era o comandante do Corpo Expedicionário PortuguêsCEP) chama-se Georges Clemenceau (e não Clevenceau no que será decerto uma gralha que escapou à revisão) mas, muito mais importante, Clemenceau era o Presidente do Conselho de Ministros francês e não o Presidente da República como é ali identificado (esse era Raymond Poincaré). Na França da III República (como acontecia de resto na nossa I República que ali se fora inspirar), o chefe de governo possuía muito mais poderes que o Chefe de Estado. Mas a confusão da legenda parece demonstrar que o seu autor não terá estudado com a atenção devida a organização política do nosso aliado francês… Nem a organização militar do nosso aliado inglês:
Nesta segunda fotografia, o mesmo General Tamagnini (do lado esquerdo) e o General Gomes da Costa aparecem a ladear um General inglês que é identificado como sendo Douglas Haig, o Comandante de toda a British Expeditionary Force (BEF). Se o autor tivesse estudado com a devida atenção a organização militar do pequeno CEP (2 divisões) e o enquadramento deste no BEF (60 divisões), aperceber-se-ia como seria improvável que os dois Generais portugueses se pudessem encontrar com Douglas Haig sem a presença dos comandantes britânicos que se situavam nos escalões intermédios, fosse o Comandante do I Exército, Henry Horne, fosse, mais abaixo, o Comandante do XI Corpo de Exército, Richard Haking, que é, de facto, o falso General Douglas Haig que aparece na fotografia…

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