17 abril 2010

O PRÉMIO TANIT PARA OS MELHORES GESTORES

Foi em Agosto de 1999 que a revista The Economist resolveu escolher a figura do recém-falecido Ernesto Melo Antunes (1933-1999) para ocupar a página de obituário que as suas edições tradicionalmente incluem. Embora os critérios dessa selecção sejam sempre muito circunstanciais (dependem, desde logo, de quem tenha morrido naquela semana…), lembro-me como foi uma escolha que avaliei muito favoravelmente quanto à profundidade e imparcialidade do trabalho dos analistas daquela revista. Tenha-se em conta que a revista é britânica e que mesmo muitos portugueses não sabem actualmente quem foi Melo Antunes e que a orientação ideológica da revista e a do então falecido não tinham mesmo nada em comum...
Mas a minha grande lição acerca deste episódio foi uma outra. Mau grado aquele e doutros destaques da informação internacional a respeito de Melo Antunes, a nossa informação nacional, sempre sequiosa de fazer notícias com o que lá de fora se diz de nós, neste caso comportou-se com uma discrição surpreendente, não dando quase nenhum destaque ao facto de Melo Antunes ter sido falado lá fora. Eu bem sabia que Melo Antunes nunca havia sido um favorito da nossa informação mas também deu para concluir que aquela nossa faceta labrega de idolatrar tudo o que vem do estrangeiro não seria assim tão espontânea quanto parecia. Quanto isso acontece, tem de haver um porquê. Foi um princípio que incorporei e que creio continuar hoje válido.
O porquê do destaque que foi dado à notícia das duas distinções recentemente atribuídas pela revista Institutional Investor a António Mexia e Zeinal Bava parece-me que é transparente: amenizar o incómodo que está a ser causado pela divulgação do valor das remunerações dos gestores em Portugal. Contudo, o veículo que transporta a notícia, a tal revista Institutional Investor, parece ser uma coisa assim um pouco pífia e de nada adiantará qualificá-la de a mais prestigiada do seu segmento ou outros elogios similares. É que só se pode falar com propriedade de prestígio (quantificado no Factor de Impacto) quando se trata de aspectos científicos de revistas como seja o caso, para exemplo, do American Journal of Surgical Pathology.
Ora o universo destes gestores é um de show-off, onde o que importa é a notoriedade. E relativamente a esse aspecto fundamental da Gestão moderna, creio que é relevante compararem-se as circulações da Institutional Investor (101.000 exemplares mensais) com a da supracitada The Economist (1.300.000 exemplares semanais). Ou seja, a desta última é 56 vezes superior… mas o obituário de Melo Antunes recebeu um infinitésimo da publicidade do prémio dos dois gestores. Como aqui se explica, o Troféu Tanit foi um daqueles galardões dos anos 70 que perdurou como sinónimo de um prémio de bimbos que se pagava. E, neste mundo das aparências, os prémios de Mexia e Bava parecem mesmo Troféus Tanit modernizados…

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