11 dezembro 2009

A FOTOGRAFIA (QUE NÃO É) DA BLITZ

A fotografia acima podia ter sido uma das mais poderosas imagens da Segunda Guerra Mundial não houvesse um pequeno detalhe (que só revelarei no fim…). A fotografia foi feita em Inglaterra e, a acreditar nos apontamentos que a acompanham, a criança foi a única sobrevivente de uma família que vivia numa casa que havia sido destruída num ataque aéreo que tivera lugar muito pouco tempo antes dela ter sido tirada.
O entulho que o rodeia é o que resta da sua casa. A continuar a acreditar na história, de entre os salvados alguém recuperou um boneco empalhado (horroroso, por sinal) que seria dela e que, quando entregue à criança, acaba por lhe conseguir mudar a disposição, conforme se observa pela sequência. A última, a do final feliz, é, do conjunto das três, a fotografia mais conhecida e a favorita da autora, a norte-americana Toni Frissell.
Toni Frissell (1907-88) era uma fotógrafa que se especializara em moda. Em 1941, com a entrada dos Estados Unidos na guerra, ofereceu os seus serviços como voluntária e algumas das suas melhores fotografias datam desse período. Todavia, Toni Frissell parece alguém que mais do que sente o que fotografa e isso será para nós mais evidente numa fotografia sua de 1946 tirada em Portugal e intitulada Fado (abaixo).
Será bonita, mas falta-lhe rigor e alma... Não deixa, por isso, de ser um certo paradoxo que tenha sido a sua câmara a captar, na fotografia inicial, aqueles olhos assustados olhando para cima como que numa interrogação muda das razões para o cenário que os rodeava. Tirada em plena Blitz (1940-41), ainda por cima da autoria de uma americana (abaixo), a fotografia teria arrasado do outro lado do Atlântico como peça de propaganda pró britânica...
Simplesmente a fotografia foi tirada já em 1945… A casa fora destruída num ataque aéreo, sim, mas a bomba vinha instalada na ogiva de um foguetão V-2… Nessa época, para os esforços de propaganda aliada, a maldade dos alemães já era um dado adquirido. Aliás, viria a receber em breve um reforço adicional com as fotografias dos campos de concentração… A fotografia ficou para as evocações da Segunda Guerra Mundial (abaixo, aos 0:32).

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