24 novembro 2009

UMA VISÃO CELESTIAL DAS MANIFESTAÇÕES DE RUA

Já por aqui assinalei como, por vezes, aparecem notícias verdadeiramente importantes. Competiria a quem vive de notícias destacá-las e tornar essas notícias interessantes mas isso seria capaz de se tornar problemático porque embaraçaria retrospectivamente toda a própria classe. Já vão perceber porquê. Comecemos pelo vídeo abaixo, que agradeço vejam antes de continuar, de uma manifestação que data de 17 de Outubro passado, em Madrid, cujo objectivo era protestar contra a Lei do Aborto em vigor naquele país. Tratou-se de uma manifestação da direita paleolítica espanhola mas, para os aspectos coreográficos que me interessam realçar e abstraindo as palavras de ordem que no vídeo não se chegam a ouvir, bem podia ser uma manifestação da esquerda neolítica portuguesa.
É que está lá tudo o que costumamos ter na nossa SIC Notícias: desde as dezenas de organizações que convocaram a manifestação, às centenas de autocarros que terão trazido gente de todos os cantos do país, à menção ao partido político que a promove mas que prefere não aparecer, só através de alguns dos seus dirigentes a título individual, até à locutora que faz a narrativa em directo e que, depois destes dados elementares que a organização lhe forneceu de antemão, já não sabe o que há-de dizer mais, para além de se repetir… Descontada a causa, não sei como se chama o senhor de pull-over e microfone que aparece no vídeo, mas não será preciso esforço algum para imaginá-lo substituído pelos nossos conhecidíssimos Mário Nogueira ou Carvalho da Silva…
Mas o que esta manifestação em Espanha teve de inédito foi que, a par das tradicionais estimativas do número de manifestantes, se tenha dado o aparecimento de um instituto que conta, a partir de um método com certa base científica, o número de manifestantes a partir de fotografias de altitude. Será uma espécie de Pedro Magalhães e de CESOP das manifestações, portanto… E os resultados foram arrasadores para as estimativas pifométricas à moda do passado. Assim, para além dos favoráveis 2 milhões de manifestantes fornecidos pela organização e 1,2 milhões apontados pela governo madrileno e dos sóbrios 250 mil dados pela Polícia e 265.300 estimados pelo jornal El País, o tal instituto, designado apropriadamente por Lynce, contou somente 55.316 manifestantes
Enfim, supondo que nem tudo será igual dos dois lados da fronteira e quando se trata de partir para este tipo de exageros, os espanhóis são muito mais ousados que nós e não têm vergonha nenhuma na cara, este episódio, que é uma renovação do famoso (e bíblico) milagre da multiplicação dos pães dever-nos-ia servir de reflexão para a realidade que existirá realmente por detrás das grandes jornadas de luta em Portugal com os tradicionais números franchisados de 100, 120, 150 ou 200 mil manifestantes que costumam contestar a política deste governo... Ferreira Fernandes foi o único que abordou este assunto numa sua crónica no DN mas, como costuma acontecer no resto da comunicação social portuguesa, o silêncio à volta deste episódio, obviamente associado à manipulação da informação, tem sido ensurdecedor

Que a Lynce venha para cá contar um por um a próxima multidão que vai ser arrastada pelo Mário Nogueira…

2 comentários:

  1. Obrgados a você para destacar o nosso trabalho e os objetivos que guian a LYNCE: aplicar a sociometria à realidade "imaginada" pelos organizadores de eventos de massa. Queremos valorizar a expressão da opinião da multidao, sem a necessidade de mentir sobre o número de pessoas que se manifestam nas ruas.

    Simplesmente não tem que ser de um milhão para estar certo numa opinion. É por isso que nao é necessária a publicação de ficção científica.

    Isso é o que fizemos após o Papa em sua recente visita a Portugal. En www.lynce.es

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  2. Não será demais reafirmar a importância daquilo que estão a fazer.

    E constatar como a publicação de "outra" verdade (cientificamente sustentada) pode ser incómoda, não apenas para os protagonistas da acção política, mas também para aqueles (os órgãos de informação) que a deveriam descrever com rigor e não o fazem.

    PS - Uma nota de apreço por terem tido a atenção de escrever o comentário em português.

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