26 novembro 2009

UM GENERAL NA FRENTE DE COMBATE

Uma das maneiras pedagógicas de explicar as naturezas diferentes que os conflitos podem assumir e como eles têm vindo a mudar do passado, mesmo recente, para a actualidade, mesmo no aspecto militar, será através da história da Divisão Brunete e do seu general que morreu na frente de combate. A Divisão Brunete é uma grande unidade blindada do Exército espanhol e sempre foi considerada uma das suas unidades de elite. Foi assim baptizada em homenagem a uma Batalha da Guerra Civil de Espanha em Julho de 1937 que teve lugar na localidade do mesmo nome que fica nos arredores de Madrid. Os seus aquartelamentos principais ficam também nos arredores de Madrid.
O comando da Divisão era (e mantém-se) uma colocação tão prestigiada quanto cobiçada. E a escolha do oficial para o ocupar é também extremamente criteriosa. O Comandante da Divisão nos princípios da década de 1980 era um oficial com currículo, um dos raros membros da sua geração que ainda tinha participado como voluntário na Divisão Azul (acima), a unidade que havia combatido com os alemães na Frente Leste durante a Segunda Guerra Mundial. Os tempos é que haviam evoluído muito desde essa época e, para além do Exército Vermelho(*), a Espanha do General Víctor Lago Román (abaixo) possuía outros inimigos, mais activos, mas que operavam de maneira menos convencional.
Talvez por isso, o General havia decidido não lhes prestar a devida atenção cumprindo os procedimentos de segurança recomendados, que implicavam alterar os horários e os percursos das suas deslocações ou tornar mais discreta a viatura oficial em que se deslocava… Numa guerra convencional, contra um inimigo que se comportasse de uma forma simétrica, o poder de fogo dos 180 carros de combate que compunham a divisão às suas ordens tornariam o General num elemento militarmente muito importante, mas num engarrafamento de uma rua de Madrid, sem escolta, toda essa importância desaparecia…
A 4 de Novembro de 1982 o General Víctor Lago Román foi assassinado com uma rajada quando o seu carro estava bloqueado no meio de um dos tradicionais engarrafamentos matinais madrilenos por dois elementos da ETA armados de pistolas-metralhadoras e que se deslocavam de mota… Não era o enorme poder de fogo das peças de 120 mm dos carros de combate da Divisão Brunete no meio das ruas de Madrid (acima) que o teria protegido naquelas circunstâncias.

(*) Apesar de, nessa época, a Espanha ainda não fazer parte da NATO (aderiu a 30 de Maio de 1982).

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