25 janeiro 2022

A MORTE DE MIKHAIL SUSLOV, O «NERD» DO SOCIALISMO SOVIÉTICO TARDIO, E OUTRAS CONTRADIÇÕES DO MARXISMO-LENINISMO

Esta é uma publicação compósita, resultante da junção de duas, embora o facto que as une seja o falecimento há precisamente quarenta anos - 25 de Janeiro de 1982 - de Mikhail Suslov, a eminência parda ideológica da era Brejnev na União Soviética. Mas, para explicar melhor esse assunto e quem foi Suslov, recuperei um texto que aqui havia publicado anteriormente (mais abaixo). Esta outra primeira parte do texto refere-se mais especificamente à data do falecimento, e à notícia que - com destaque de primeira página (acima à esquerda) - o Diário de Lisboa obviamente dá ao assunto. Aquilo que terá escapado, porventura, aos leitores do jornal, é que, naquele mesmo dia do falecimento de Suslov, o jornal publicava esta notícia abaixo, em que, de Pyongyang, na Coreia do Norte, regime reputado pelo seu socialismo, se «confirmava» que o sucessor de Kim Il Sung iria ser o seu próprio filho. Com um descaramento aldrabão de um marxismo-leninismo que talvez orgulhasse o defunto, o artigo dedicava um prolongado parágrafo a explicar que aquela sucessão era «ao contrário das monarquias»!... Ligando os dois assuntos, era um bom momento para especular o que é que a interpretação das aprofundadas leituras de Mikhail Suslov sobre o legado teórico de Marx, Engels, Lenine e outros, poderia ter para nos dizer...


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Há personalidades da nossa história moderna, feita de imagens, que se tornaram marcantes por termos ouvido falar delas muito antes de as conhecermos. Foi o que me aconteceu com Mikhail Suslov (1902-1982), reputado por ter sido a eminência parda por detrás do Kremlin durante os dezoito anos da Era Brejnev (1964-1982), e que só vim a conhecer em fotografia muitos anos depois da sua morte. Talvez para compensar, incluí neste poste três fotografias suas tiradas em décadas distintas, 1950, 1960 e 1970.
A mais antiga parece-me ser a mais genuína, onde os óculos mais acentuam a sua imagem de teórico e ideólogo nas altas esferas do Partido, apoiando a ascensão ao poder de Nikita Khrushchov (1954-56), protagonizando o afastamento do Marechal Jukov sob acusações de bonapartismo (1957), desempenhando um papel com tanto de importante quanto de obscuro quer na Cisão Sino-Soviética (1960) como, sobretudo, nas manobras de bastidores que levaram à substituição de Khrushchov por Leonid Brejnev (1964).
Depois disso, Mikhail Suslov, acima fotografado já sem óculos, para lhe dar uma pose mais parecida com um homem de estado, tornou-se na prática na segunda pessoa mais poderosa da hierarquia soviética, com uma selecta rede de contactos e protegidos, onde se contavam russos como Yuri Andropov, que viria a ser o sucessor de Brejnev, e estrangeiros como Álvaro Cunhal que excepcionalmente – considerando o seu carácter… – permitia que em Portugal o PCP desse divulgação a essa relação de favoritismo.
O clã dominante envelheceu no poder. Mikhail Suslov recebeu por duas vezes a distinção de Herói do Trabalho Socialista, que era a mais importante condecoração civil da União Soviética. Respeitado intelectualmente e tido como incorruptível mas, ao mesmo tempo, como profundamente conservador, apesar de ser extremamente discreto, sempre foi um dos dirigentes soviéticos favoritos dos sovietólogos, especialistas do período da Guerra-Fria que, no Ocidente, faziam vida da interpretação dos sinais vindos do Kremlin…
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