11 maio 2009

A RITMOS DIFERENTES...

A propósito da tomada de posse de Jacob Zuma como quarto presidente da África do Sul democrática da era pós-apartheid, cerimónia que teve lugar anteontem (acima), ocorreu-me quanto, cerca de quinze anos depois da queda daquele regime (1994), a África do Sul continua a manter a sua delicada estrutura de equilíbrios que foi cuidadosamente erigida naquela época por Nelson Mandela e Frederik de Klerk. Um exemplo maior dessa atitude é o Hino Nacional da África do Sul (vídeo abaixo), feito da junção de duas melodias diferentes (uma negra, outra branca) e cantado em cinco idiomas (xhosa, zulu, sesotho, africânder e inglês).

Apesar do ANC ter sempre obtido maiorias eleitorais esmagadoras nas eleições realizadas (62,7% em 1994, 66,4% em 1999, 69,7% em 2004 e 65,9% este ano) tem-se constatado um cuidado constante dos seus dirigentes em promover as reformas possíveis na sociedade sul-africana mas tomando em conta não só a fragilidade dos acordos então firmados como também aqueles que ficaram então subentendidos entre as várias comunidades que a compõem. Exemplo: o novo presidente sul-africano é um antigo militante comunista mas é improvável que venha a anunciar que a África do Sul se irá tornar num pais em transição para o socialismo

Há um enorme contraste entre esta prudência politica demonstrada pelos dirigentes sul-africanos e o atabalhoamento dos dirigentes europeus ao longo desse mesmo período de tempo, pois, depois do Tratado de Maastricht (1993), e ainda no período em que este demoraria a consolidar-se, já se conseguiram assinar mais outros três: os Tratados de Amesterdão (1999), de Nice (2003) e de Lisboa (2009? – Porreiro, Pá!). Não se pode assegurar que as cautelas dos dirigentes sul-africanos se transformarão em sinónimo de sucesso, mas já deu para antever quanto demasiados tratados se arriscam a descambar num fracasso...

3 comentários:

  1. O mais curioso é nós como parte deste bloco europeu nunca termos discutido que objectivos concretos esperamos alcançar enquanto país...

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  2. O problema que colocou é extremamente pertinente, mas creio que o advérbio "nunca" terá sido empregue em excesso no seu comentário, Pedro Fontela.

    Há quem, possuindo visibilidade mediática (o que ajuda muito...), se disponha a debater esses objectivos de que fala (por exemplo: http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=67246&visual=3&layout=10).

    Tenho muitas dúvidas é que o debate do assunto, por se poder tornar tão abstrato, suscite qualquer interesse mediático.

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  3. A. Teixeira, talvez nunca seja excessivo (afinal nem sempre estivemos tão mal como agora estamos) mas a realidade é que se abafa qualquer discussão (mediática ou não) sobre para onde vamos e o que queremos, aliás as forças políticas fogem desse debate como o diabo da cruz - este marasmo que permite a dedicação a microcausas insignificantes parece ser mais gratificante para muitos.

    Talvez uma pergunta mais relevante seria o porquê da necessidade de tornar o processo de definição de objectivos mediaticamente relevante. Quanto mais alarido se faz mais se ofuscam os factos e se silenciam vozes incómodas.

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