19 maio 2009

O SÉTIMO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS

Quando escrevi previamente um poste sobre John Quincy Adams, quase terá ficado prometido um sobre o seu sucessor e rival Andrew Jackson. Batido nas eleições de 1824, Andrew Jackson partiu para as de 1828 com um espírito de desforra que vingou ao vencê-las tanto na contagem de votos populares (642.000 versus 501.000) como nos membros do Colégio Eleitoral (178 contra 83). Mas a campanha eleitoral foi tão sórdida que John Quincy Adams nem esteve presente na cerimónia da posse do seu sucessor…

Ao contrário do aristocrático Adams, que a custo se dignava explicar os seus méritos ao eleitorado, existia até uma espécie de lenda associada à carreira ascendente do popular Andrew Jackson (1767-1845). Nascera pobre, órfão de pai, perdera a mãe e irmãos muito cedo, e havia uma história sua de adolescente, associada ao período da Guerra de Independência, quando fora espancado à espadeirada por um oficial britânico por se ter recusado a engraxar as suas botas, deixando-o com cicatrizes nas mãos e na cabeça.
Mais tarde, por ocasião da Guerra de 1812, voltava a encontrar-se Andrew Jackson em combate com os britânicos, ao vencer a Batalha de Nova Orleães, um dos raros triunfos norte-americanos naquele conflito, mas que o tornou imensamente popular. E, passado um par de anos, vemo-lo de novo como general a perseguir tribos índias vindas da Florida (então espanhola) que haviam atacado o Sul dos Estados Unidos. Jackson invadiu a Florida e depôs o governador local, criando um enorme conflito diplomático (*).

Mas, mesmo estes desastres, reforçavam a sua popularidade, comprovada nos resultados da campanha presidencial de 1824, que perdeu por uma unha negra. Andrew Jackson aparecia, como um verdadeiro filho não só do povo como do Oeste e da Fronteira, a região dos Estados Unidos onde a sociedade ainda não se encontrava estratificada. Era preciso conhecer essa sociedade para se compreender a forma como Jackson e a mulher abriram o baile em que se celebrou a reconquista de Nova Orleães em Janeiro de 1815 (**).

A sua tomada de posse, a 4 de Março de 1829, especialmente a festa marcada para a Casa Branca acabou por ser um acontecimento de arromba!! Muitos daqueles delicados adereços que haviam sido cuidadosamente reunidos por Louisa Adams e por algumas das suas antecessoras, como cristais, porcelanas, mobiliário, foram nesse dia partidos por uma turba de convidados que comeu e bebeu tudo o que havia à vista e ainda mais. O envergonhado Jackson acabou por ter de ir dormir a uma estalagem próxima…

Considerado como o fundador do actual Partido Democrata, o desempenho presidencial de Andrew Jackson tende a ser avaliado com alguma condescendência. Se, do ponto de vista ideológico, durante a presidência de Jackson se assiste à consolidação de um verdadeiro espírito democrático na América que seria então impensável do outro lado do Atlântico, do ponto de vista prático, essa mesma ideologia conduziu a erros graves como a oposição à existência de um banco central, que esteve por detrás do Pânico de 1837.
Apesar da ideologia democrática, Andrew Jackson, que começou simples, oriundo do povo, acabou dono de plantações e, paradoxalmente, de cerca de 150 escravos. Como acontece com John Quincy Adams, também existem fotografias de Andrew Jackson ainda que tiradas depois da sua presidência. Como se pode observar, uma das características mais identificativas de Jackson, para além da sua estatura de cerca de 1,85, era a sua cabeleira revolta, que costuma ser comparada à de Woody Woodpecker, o boneco dos desenhos animados.

(*) Cerca de 130 anos depois, um outro popular e prestigiado general norte-americano pretendeu também tomar o assunto entre mãos e, copiando Andrew Jackson, ignorar as fronteiras, mas acabou sumariamente exonerado: Douglas MacArthur, durante a Guerra da Coreia (1950-53).
(**) “… o general era duma estatura desmedida, magro como um esqueleto; sua mulher era gorda como uma pipa; ambos saltavam como dois índios meio embriagados ao som duma melodia selvagem; esta dança era mais divertida de ver do que qualquer baile europeu!”

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