02 fevereiro 2009

A VIDA DE MARINHEIRO

Porque não faz parte da orientação que quero dar a este blogue, não me pronunciei até agora sobre tudo o que tem estado associado ao episódio Freeport. Aliás, suponho que coisa que não falta nessa blogosfera são opiniões, variadíssimas, acerca dos inúmeros aspectos de que se foi revestindo o episódio, depois transformado em folhetim. Mas agora, que julgo que a pilha de assuntos associados ao episódio construída freneticamente pela comunicação social já se desmoronou por causa da patetice de alguns assuntos que para lá foram sendo adicionados, achei oportuno questionar-me sobre a (im)parcialidade dos critérios que levam os jornalistas a elegerem os seus alvos nestes casos de escândalo.

Parece-me evidente que José Sócrates já estará há tempo suficiente no poder para agora só estar rodeado de uma camarilha servil e concordante. É esse conceito muito elevado da sua importância que costuma atacar infelizmente quem ocupa o poder mais do que um par de anos, ampliado pela caixa de ressonância dos que o rodeiam que explicam – mas não desculpam... – aqueles exageros da campanha negra. Chegados aqui, deixem-me mudar para um outro assunto, ou, adoptando a expressão de José Sócrates e dos seus apaniguados, para uma outra campanha, esta branca por possuir a virtude de nem se ter dado por ela. Falo do Caso da Carta de Patrão de Costa de Joaquim Ferreira do Amaral
É um episódio que, como o do Freeport, deixei que também amadurecesse: apareceu na imprensa em 13 de Janeiro, mas hoje constata-se com evidência que não houve órgão de comunicação social que o quisesse desenvolver. E, contudo, vejam quanto ele parece ser bastante interessante: é um caso de corrupção associado aos exames que conferem direito às Cartas de Marinheiro, de Patrão Local e de Patrão de Costa. Há uma Escola sedeada em Matosinhos que se ufanava de uma alta taxa de aprovação dos seus alunos. E para mais, os alunos só precisavam de a frequentar durante 4 dias… Trata-se de uma bela notícia com corruptores, corrompidos e 43 arguidos, um dos quais se chama Joaquim Ferreira do Amaral…

O depoimento que o ex-ministro de Cavaco Silva, ex-candidato a Presidente da República e actual presidente da Lusoponte prestou ao Correio da Manhã chega a ser tocante pela sua candura: ele e o filho foram de Cascais até Matosinhos(*) para obter a tal Carta de Patrão de Costa porque ali o curso era melhor e só durava quatro dias, além de que, quando Ferreira do Amaral recebeu o SMS com as respostas certas ao exame, já nem estava dentro da sala… Mais uma vez, depois de Dias Loureiro, temos oportunidade de ouvir as declarações de um ex-governante ingénuo, a quem nunca lhe passou pela cabeça que pudesse vir a estar associado a algo ilegal: Qual não é o meu espanto quando a polícia me chamou!...
Eu, e creio que muita gente mais, não teria ficado nada espantado, considerando a anomalia da situação (...é que não se costumam receber SMS com respostas durante os exames) e que o esquema viera a ser denunciado… Agora, o que me deixou deveras espantado foi a discrição com que todo este suculento incidente veio a ser tratado pela comunicação social, para mais quando estas atitudes ingénuas apenas conseguem é excitar ainda mais as feras… Atendendo ao tema e à (falta de) reacção mediática, e ao contrário do que cantavam Os Sitiados, precisamente nos tempos do apogeu do cavaquismo e de Ferreira do Amaral (1992), há casos e pessoas em que parece que esta vida de marinheiro não dá cabo delas…
(*) - Claro que há variadíssimas escolas na região da Grande Lisboa onde eles poderiam obter precisamente a mesma Carta...

1 comentário:

  1. Estou quase a chegar a uma fase em
    que deixarei de ler jornais.Estava-
    -se no BPN,no BPP e vem o SOL com
    o Freeport(há uma personagem comum
    ao BPN e ao SOL-J.Coimbra,de seu
    nome)Parece que o Freeport vende
    bem,possivelmente melhor que a"carta de patrão de costa"só assim se compreende a parcialidade
    Se há crime,investigue-se BEM, e
    depois julgue-se.É dramático julgar-se,quem quer que seja,na
    praça pública.Já passei por essa
    Há cinco anos,"fabricaram-me"um
    crime de ofensas corporais a uma
    senhora.Fui constituído arguido
    com termo de identidade e residência.Aqui na aldeia, e não só,para muitas pessoas,eu era já
    um tipo condenado.Passado um ano,
    fui a julgamento.Antes deste se
    iniciar,o meu advogado informa-me
    que o colega,patrono da queixosa,
    disse-lhe desistir da queixa caso
    eu pague a indemnização que ela
    pedia.Aconselhou-me a aceitar,
    poderia dizer depois que ela só
    queria dinheiro.Não aceitei.Sou
    chamado ao gabinete da SrªJuíza,
    onde ouço a mesma conversa,deveria
    pagar a indemnização e não ir a
    julgamento.Respondi-lhe"Srª Drª
    tive um soldado que foi fuzilado
    sem julgamento,ainda acredito na
    Justiça,se pagar a indemnização
    estou a dar-me como culpado,em
    memória do meu soldado quero ser
    julgado"Fui absolvido.Quero crer
    que a Justiça,ainda que demorada,
    funciona,os jornais não julgam,
    confundem.
    Abraço

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