11 dezembro 2008

OS ESTADOS PRINCIPESCOS DA ÍNDIA – 3

Bhopal era e continua a ser, de entre as cidades importantes da Índia, a mais central (acima). Ao mesmo tempo era a capital de um Estado Principesco com o mesmo nome de uma importância de 19 salvas de canhão – idêntica à de Travancore. Contudo, Bhopal, apesar de ter uma área idêntica (cerca de 18.000 km²) a Travancore, era um Estado muito menos povoado – tinha apenas 730.000 habitantes em 1931. Sobretudo o que distinguia os dois Estados em 1947 era o facto de Bhopal possuir um soberano muçulmano (designado por Nawab), apesar da maioria da população ser hindu.

Todavia essa distribuição da população por confissão não era homogénea: os muçulmanos encontravam-se em maioria nos centros urbanos e os hindus nas regiões rurais. Ainda hoje, na Bhopal moderna, que cresceu para uma população de 1,5 milhões de habitantes e é a capital do Estado indiano de Madhya Pradesh, 38% da população é muçulmana, o que é uma proporção três vezes superior à média nacional. Durante o período do Estado Principesco os muçulmanos predominavam na administração, tanto mais que o idioma empregue, a par do inglês, era o persa e o urdu (abaixo).
Mas o que tornava a História de Bhopal mais exótica foi a sucessão de mulheres que ocuparam o trono e exerceram o poder de facto entre 1819 e 1926: Qudsia (1819-1837), Sikander Jahan (1844-1868), Shahjahan (1868-1901) e Kaikhusrau Jahan (1901-1926)*. Em 1947, quando se colocou o problema da Adesão do Bhopal, o Nawab era o filho da última, Hamidullah Khan. Era conhecido pela sua antipatia para com o Congresso, não só do ponto de vista comunitário-religioso como também do ponto de vista político, a quem lhe desagradava as tendências socialistas, especialmente Nehru.

A realidade é que a geografia não ajudava nada às pretensões de Hamidullah Khan: o Estado de Bhopal, para além da maioria demográfica de hindus, estava situado bem no interior e numa região que naturalmente viria a pertencer à Índia. As dificuldades por si colocadas acabaram mais por ser de carácter protocolar do que realmente substantivas: pediu, por exemplo, que a data limite para assinar a Adesão fosse excepcionalmente alterada no seu caso em mais dez dias. Recusaram-no, mas o Vice-Rei teve a cortesia de guardar o documento assinado no seu cofre durante esses dias adicionais…
À margem da História principal, vale a pena dizer que de Bhopal houve depois um forte movimento de emigração de quadros extremamente qualificados para o Paquistão depois da Partição e da Independência. Uma das emigrantes foi a própria filha mais velha e herdeira do Nawab, Abida, que emigrou com a família para Karachi em 1950. A sucessão do título passou então para a filha mais nova, Sajida. Outra família muçulmana de Bhopal que também emigrou por essa altura (1952) foi a de Abdul Qadeer Khan, aquele que virá a ser considerado o pai da bomba atómica paquistanesa…

(Continua)

* Na Europa, só nos Países-Baixos é que se passará um fenómeno semelhante: depois da Rainha Guilhermina (1890-1948), seguiu-se a sua filha Juliana (1948-1980) e agora a sua neta Beatriz (1980- ).

3 comentários:

  1. Lido com o interesse de sempre.
    Cumprimentos "do frio"

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  2. Se tiver tempo, disposição e vier a calhar, transmita parte dos cumprimentos que lhe envio à "pequena sereia".

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  3. Assim farei e com muito gosto, se o tempo, que nao vai ser muito, me permitir.
    Nao sei é se me consigo esticar sem molhar os pés...

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