01 dezembro 2008

A INFORMAÇÃO E O FILME DA AUTÓPSIA DO EXTRATERRESTRE

Ainda a propósito das insuficiências e distorções da informação, expostas neste último episódio do ataque terrorista a Bombaim de uma forma quase tão evidente quanto as insuficiências do dispositivo policial e militar que tinha sido montada pela Índia para aquelas eventualidades, vale a pena contar todo o episódio de um alegado filme de uma pretensa autópsia a um hipotético extraterrestre, que havia sido alegadamente realizado em 1947 e que apareceu no circuito informativo há coisa de uma dúzia de anos.

Naquela época (1995) o filme (veja-se acima) foi encarado com toda a seriedade e tornou-se mesmo um verdadeiro sucesso mundial de audiências, tendo passado em dezenas de países. No nosso, houve um serão televisivo totalmente dedicado a ele, incluindo a passagem do filme, seguido de um debate que se pretendia sério e científico sobre a sua autenticidade. Esse debate tornou-se tão ridículo que foi, por sua vez, objecto de uma paródia por parte de um programa de humor (veja-se abaixo).

Na mesma perspectiva, há cerca de dois anos, produziu-se um filme cómico parodiando os acontecimentos de 1995 intitulado Alien Autopsy. Foi um bom pretexto para que uma cadeia de televisão realizasse uma reportagem – essa séria – de investigação sobre as circunstâncias que levaram ao descobrimento miraculoso, 48 anos depois e em Londres, de um filme que fora realizado, presumivelmente, perto de Roswell, no longínquo Estado norte-americano do Novo México. A reportagem foi esclarecedora…
Nela, aquele que fora o descobridor do filme em 1995, um produtor inglês chamado Ray Santilli, contou uma nova história: afinal o filme era apenas parcialmente autêntico e maior parte dele fora uma recriação feita a partir de dois bonecos e tripas de animais do talho, mas alegava que o filme fora inspirado e procurara recriar o que ele havia visto num filme original de 1992 que entretanto se degradara... Algumas passagens desse filme sobreviveram e foram incluídas, mas Santilli não identificou quais eram…
É o mais próximo que se pode estar de falar de uma aldrabice total sem a confessar… E, como seria de esperar, a cobertura mundial dada pela comunicação social ao teor destas declarações não foi propriamente proporcional àquela que fora dada anteriormente por ocasião da divulgação do filme… No campo científico é sempre difícil confundir por muito tempo o que é palhaçada e o que é sério: já houve quem quisesse tentar organizar debates entre o astrónomo Máximo Ferreira e a astróloga Maya e foi um fiasco…

4 comentários:

  1. Alegado filme; pretensa autópsia; hipotético extraterrestre; alegadamente realizado....

    Homem de pouca fé!

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  2. Tenho um desafio para ti, que gostas de história: quem é o verdadeiro autor de uma frase que é qualquer coisa como "Uma mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade."?

    Já a vi atribuida a Lenine, Mao, Goebbels e Hitler.

    Consegues concluir algo?

    Abraço

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  3. É um desafio mesmo giro esse que me propões, João. Obrigado.

    Daquilo que, pelas minhas leituras, consolidei da personalidade dos 4 potenciais autores que citas creio que posso eliminar imediatamente 2 como autores da frase: Adolf Hitler e Mao Zedong.

    O raciocínio e os discursos de Hitler, tanto públicos quanto em privado nunca mostraram ser nem imaginativos nem figurativos. Citações vagamente assemelháveis à que está em causa que aparecem no “Mein Kampf” (no Capítulo X, por exemplo) são usadas com um conteúdo censório. Além disso, ao conhecer-se a forma desconfortável como Hitler geriu toda a fase de aproximação entre a Alemanha e a URSS (1939-41) percebe-se que ele não era um cínico genuíno para se comprazer a proferir tal frase.

    Este último seria um problema que creio que não se poria a Mao, mas para se poder atribuir a frase a Mao, o problema que existirá será o da forma. O tipo de estética metafórica do mandarim em geral e de Mao Zedong em particular não combina de todo com a estrutura da própria frase. Ou seja, na minha opinião nem me surpreenderia que Mao pudesse ter dito tal ideia, mas não a formularia sem evocar a natureza, os animais, as flores, as montanhas ou uma outra coisa desse estilo.

    Ficam os 2 cínicos assumidos do grupo: Lenine e Goebbels. E começam a ser mais complexas de explicar as opções que faço para seguir por um ou outro caminho. Comecemos então por Lenine.

    Lenine é… leninista. Por exemplo, Marx escreveu um brilhante texto explicando porque achava que os fins não justificavam os meios e Lenine complementou-o com um texto seu, em que escreve que concordava totalmente com Marx e onde conclui que os fins justificavam os meios. O famoso “Animal Farm” de George Orwell é sobretudo uma desmontagem do leninismo, um discurso onde as palavras perdem completamente o seu significado.

    Ao longo da sua vida Lenine parece ter sido o tipo de pessoa que se sentia tão segura da sua superioridade intelectual que parece ter atribuído um valor irrisório à capacidade de persuasão. Claro que não se inibiu de mentir quanto necessário mas, na sua perspectiva, o proletariado era uma massa amorfa que se invocava mas, de resto, era destinada a ser dirigida pelo partido. E sobretudo, porque Lenine morreu em 1924, no seu tempo não existiam meios de comunicação para o dirigir (e para lhe mentir).

    É essa questão técnica que me leva a fazer, em primeiro lugar, de Joseph Goebbels o meu suspeito favorito como autor da frase. Goebbels já dispunha de instrumentos de comunicação de massas à sua disposição. Por outro lado, como Ministro da Propaganda da Alemanha Goebbels estava posicionado num nível hierárquico em que a formação da opinião pública – ao contrário de todos os outros nomes, que eram dirigentes supremos - seria um assunto primordial para si.

    A verdade é que, sendo um estado tão totalitário quanto a União Soviética, a Alemanha de Goebbels tinha uma relação diferente com “as massas populares”. Hecatombes equivalentes às da colectivização das terras com os seus milhões de mortos teriam sido impensáveis na Alemanha… O aparelho de informação nazi tinha que estar estruturado para persuadir a sociedade alemã, e aí Goebbels nunca mostrou grandes preocupações éticas quanto à forma de o fazer…

    Uma última hipótese é a que a frase não tenha sido da autoria de nenhum dos 4 autores referidos, uma hipótese também muito plausível… O resto da história é fácil de deduzir: durante o período da Guerra-Fria, a frase terá sido utilizada, mudando-lhe a autoria, como arma de arremesso político.

    E, se não te importas, dada a extensão da resposta, vou passá-la a poste.

    Abraço

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  4. Donagata, é verdade, sou pessoa de pouca fé. Um céptico.

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