01 novembro 2008

ESCUTEM-ME A DIZER ESTAS COISAS RIBOMBANTES…

É um pouco difícil explicar aos não iniciados como era uma aula de equitação no Colégio Militar. Talvez uma história contada pelo Pedro Freitas no seu Blogue (local aonde fui gamar desenrascadamente a fotografia abaixo*, com os meus agradecimentos) ajude a perceber quão importantes eram os rituais prévios à aula, como tentar adoptar uma atitude positiva ou saber escolher o cavalo que se montaria. E depois era o que Deus e o instrutor (um oficial da Arma de Cavalaria) quisessem…
O que importa para a continuação desta história, é que havia uma grande discrepância entre os que não gostavam daquilo (creio que eram uma fracção substancial) e os que confessavam que não gostavam daquilo (uma minoria). É que havia uma tremenda pressão social para não se dar parte de fraco e poucos eram os que ficavam imunes a ela. E depois, como conta o episódio da história do Freitas, havia aqueles dias em que tudo podia correr mal, aos impressionáveis ou aos outros.
Acabava por se tornar um processo humilhante porque, além das quedas consecutivas (até se perder a conta...), juntava-se o apoio pedagógico do instrutor que, do centro do picadeiro mandava umas bocas consagradas que, no mínimo, tentavam passar por humor: - Quem é que te mandou apear do cavalo? Em suma, houve um dia que calhou uma sessão dessas ao meu amigo Luís, por alcunha o Maciço, a quem coubera em sorte um cavalo pequenino mas terrível, chamado Ratinho.
O que foi inédita foi a reacção do Maciço no fim da aula, humilhado e coberto de serradura, com a sua reputação de cavaleiro momentaneamente arrasada, virar-se para o Ratinho (que o contemplava placidamente) e, de dedo em riste mais a voz tonitruante que Deus lhe dera, dizer: - Para a próxima aula, ajustamos contas!... Pela placidez que se via nos olhos do Ratinho, acho que ele não se impressionou. Quanto ao resto do auditório, a quem de facto a tirada se destinava, descobriremos que também não…
Desde aí, sempre que me deparo com tiradas deste tipo, dirigidas formalmente a um interlocutor, mas destinadas a impressionar a audiência, e tão inúteis quanto ribombantes, lembro-me logo do Maciço (…e da impassividade do Ratinho). Atente-se então nesta frase escrita e destacada por Vital Moreira no final dum poste do seu blogue: Ai dos regimes democráticos onde os militares possam pensar que podem revoltar-se impunemente, quaisquer que sejam as suas razões.
Já aqui me havia referido neste blogue como o verde das fardas parece funcionar para Vital Moreira como o vermelho das capas dos toureiros funciona para os touros. Aquela forma desafiadora como ele resolveu terminar o seu comentário às declarações do General Loureiro dos Santos suponho que receberá a mesma ignorância desdenhosa que a bravata do Maciço: Quererá o insigne constitucionalista verificar a possibilidade de aplicar o RDM** a generais reformados, como sugere?
Quanto às reacções do auditório, deixem-me contar-vos como acabou a outra história, a do ajuste de contas entre o Maciço e o Ratinho: na semana seguinte, um comité trocista de colegas, aguardava o Maciço no picadeiro, tendo-lhe reservado expressamente o cavalinho para a tão propalada e prometida desforra… Ao contrário do original, aquele Júlio César chegou, viu e… empalideceu, afastando-se depois a resmungar qualquer coisa enquanto procurava uma outra montada que não fizesse dele, outra vez, vedeta da aula…
Assim como era a do Maciço pelo resto da turma, também suponho que a essência de Vital Moreira já seja conhecida pela maioria do auditório. Assim como de 1974 a 1987 era exuberantemente defensor de uma outra legitimidade, desde aí tornou-se exuberantemente defensor desta legitimidade, e estou em crer que não haverá por aí muitos apostadores que o considerem incapaz de aparecer no futuro a defender (exuberantemente, claro está!) uma próxima legitimidade… Talvez mesmo a dos militares, porque não?
* A fotografia de cima também foi gamada, mas deste blogue, com igual desenrascanço e com um Zacatraz de agradecimento ao Ricardo Galvão.
** RDM: Regulamento de Disciplina Militar. E a resposta à pergunta é que aquela aplicação seria juridicamente algo mais do que duvidosa além de ser politicamente desastrosa.

3 comentários:

  1. Muito interessante este post (aliás como todos os outros). Continuas a impressionar-me com as tuas incríveis analogias que são ainda mais inesperadas do que as diversas legitimidades defendidas pelo Vital Moreira.
    Bom fim de semana.

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  2. Obrigado Donagata. Uma boa semana para ti.

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  3. A única coisa que eu vou apreciando no blogue de Vital Moreira são alguns textos... de Ana Gomes, uma espécie de heterónimo para a sua segunda, digo primeira personalidade... perdida.

    Mas não é grave; é apenas bizarro. E é destas flexibizarrias de personalidade que o PS vive - digo eu.

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