21 outubro 2008

MANUAL SOBRE O TRATAMENTO POLÍTICO DE "PEQUENOS" ERROS DE PREVISÃO

Se é verdade que o desempenho dos Ministros das Finanças não devem ser avaliados exclusivamente pela capacidade adivinhadora da evolução das variáveis (crescimento económico, taxas de inflação e de desemprego) macroeconómicas em que assentam os Orçamentos por que são responsáveis, também é verdade que grandes desvios entre as previsões do Orçamento e o que a realidade vem depois a revelar, ou entre as previsões contidas no Orçamento e as previsões homólogas de outros organismos autónomos, são fenómenos que não costumam abonar nada em favor do titular da pasta das Finanças.
Recorde-se que foi assim que a credibilidade de Bagão Félix, o Ministro das Finanças do Governo de Santana Lopes, se evaporou, ao elaborar um Orçamento para 2005 em que se previa que haveria um crescimento económico de 2,4%... Foi uma gozação pegada, era um daqueles valores que só mesmo uma pessoa dedicada como Luís Delgado é que conseguia dizer que acreditava que fosse possível… e o resultado real do crescimento da economia portuguesa nesse ano acabou por ser de 0,7%. Vale a pena ter esse episódio presente…
… para o comparar com o crescimento económico previsto para a economia portuguesa em 2008, tal qual constava do Orçamento apresentado há um ano pelo actual Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos: 2,2%! Também na altura da apresentação apareceram os Luíses Delgados a defenderem a plausibilidade de uma estimativa em que ninguém seriamente acreditava – mas que, dessa vez, ninguém ria… Hoje, ainda não sabemos como o ano vai acabar, mas, de revisão em baixa em revisão em baixa, as últimas estimativas já pairam pelos 0,8%...
Se agora ninguém ri, será porque todos já conhecem a piada?… Ela arrisca repetir-se para o próximo ano, quando o Governo, no seu Orçamento resolveu fazer outra vez pontaria para o ar, ao prever um crescimento de 0,6% para a economia portuguesa. Neste caso específico, num assunto que ela domina, a crítica de Manuela Ferreira Leite quanto ao optimismo excessivo dessa previsão no Orçamento tem mais do que razão de ser. Ora foi com aquele enorme fiasco de previsão que o Governo teve a lata de a tentar rebater, quanto a esse aspecto? Tenham vergonha...

10 comentários:

  1. "Prognósticos só no fim" - conforme dizia o prémio Nobel da literatura.

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  2. O azar vem de alguns chatos e muiudinhos como o Herdeiro que não perdoam e vão lá atrás ver o princípio do filme.
    Isto é, um pouco, como as previsões dos Zandingas da nossa praça. São uma curiosidade na altura, em vésperas de ano novo, mas que todos esquecem depressa.
    E ninguém vai, um ano depois, fazer o balanço do certo e do errado das profecias.

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  3. Nas Finanças, vão longe os tempos do "Nunca tenho dúvidas e raramente me engano".
    Ou melhor, será que vão mesmo?

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  4. Para cortar a sério nas despesas públicas podiam-se acabar os subsistemas de saúde, o pagamento de horas extraordinárias além de 1/3 do vencimento a quem trabalhe no sector público.
    Investigar o que (não) se faz no Campo Militar de Santa Margarida.
    Saber qual o efeito prático dos funcionários do Ministério da Agricultura - senão produzem não devem lá estar, o que não quer dizer abandonados.
    E cortar-se o rendimento mínimo aos seus "profissionais".
    isto sim, seria uma verdadeira obra pública-

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  5. Por um lado, João Moutinho, no caso dos Orçamentos não vale fazer como o João Pinto, tem sempre que se dar um palpite. Não sei se é do tempo dele mas era como preencher o totobola: 1, X ou 2.

    Por outro, tenho para mim que raramente os problemas complexos têm soluções simples: o nó gordio e o ovo de Colombo são muito conhecidos mas porque são raridades...

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  6. Que há quem faça o balanço, isso há sempre Carteiro. A diferença está na publicidade e divulgação que se dá na comunicação social aos resultados desse trabalho...

    Houvesse quem quisesse tramar Teixeira dos Santos e já estas "previsões" andavam na boca do mundo, assim como a lembrança do facto de que Teixeira dos Santos era o presidente da CMVM que deveria ter vigiado (e não vigiou...) as manipulaões de Bolsa feitas pelo BCP...

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  7. Nada a fazer, meu caro JRD: não gosta mesmo nada do homem... Até já o culpou pelos salários em atraso no princípio da década de 80...

    Mas olhe que se o assunto for economia e finanças é preciso ter cuidado. Ele já provou - lembra-se da história do artigo sobre o Monstro de Guterres? - que percebe daquilo...

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  8. “Olhe que não “ (a frase não é minha) meu caro A. Teixeira.

    Nunca referi o princípio da década de oitenta . Por outro lado, já procurei esclarecer a imprecisão, que aliás é relativa, porque a situação se prolongou.
    Diremos que no tempo dele houve salários em atraso, mas, mais grave, foi a instituição tácita da figura do trabalho sem salário e dessa não creio estar equivocado.
    Quanto ao não gostar do homem, leia-se figura política, admito que sim, que me causa incomodidade por tudo o que representa e em que não me revejo.
    Também não duvido que “ele” (esta também não é minha) percebe daquilo. Há vários a perceber daquilo e, talvez por isso, nenhum deles teve o salário em atraso ou trabalhou de borla…
    É , no entanto, o presidente da república, no qual não votei, mas que aceito e respeito.

    Cumprimentos

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  9. "prognósticos só no fim" - estava-e a referir ao Winston Churchill. Que realmente venceu o prémio Nobel.
    :-)

    (espero que não se tenha zangado com esta pequena partida)

    Então não era o Pompeu (ou alguém parecido) que dizia "existe nos confins do Ocidente da Hispânia um povo aguerrido que não se governa a ele nem deixa que os outros o governem"?

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  10. Claro que não estou zangado, João Moutinho, e toda a gente sabe que essa expressão "prognósticos só no fim (do jogo)" é da autoria do grande capitão portista, João Pinto, o tal que tinha o coração de uma só cor: azul e branco.

    Esse Winston qualquer coisa de que fala aí jogava em que clube? No Southampton?

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