18 agosto 2008

A RESIGNAÇÃO DE PERVEZ MUSHARRAF

Das análises que já aqui fiz da situação paquistanesa (vejam-se, à direita, os postes com a etiqueta Paquistão), onde costumo poupar Pervez Musharraf, entenda-se que, apesar disso, não considero, em abstracto, a existência de uma presidência militar como a solução mais saudável em termos de regime para um país. Só que o problema concreto neste caso é que o país em questão chama-se Paquistão e, como já expliquei neste blogue, a falta de coesão interna e de identidade nacional continuam a fazer-se sentir mais de 60 anos depois da sua fundação.

Desde que o cargo de Presidente foi criado no Paquistão (1956), os militares têm-no ocupado em 32 dos 52 anos de vigência - entre 1956 e 1971, de 1978 a 1988 e agora, com Pervez Musharraf, de 2001 a 2008. Tradicionalmente, quando são os militares a ocupar o cargo, as Constituições paquistanesas são revistas num sentido presidencialista, enquanto que nas épocas de predominância do poder civil, as revisões tornam o cargo decorativo e esvaziado de poderes, que são transferidos em benefício do Primeiro-Ministro.

Se a Constituição for cumprida então o actual Presidente Interino será Muhammad Soomro, o presidente do Senado, um sindi considerado próximo do presidente resignatário. Mas se se respeitar a tradição dos governos civis, então a disputa centrar-se-á à volta do cargo de Primeiro-Ministro, actualmente ocupado por Yousaf Gillani, um saraiki, um grupo cultural convenientemente situado a meia distância entre os sindis do PPP da família Bhutto e os punjabis da Liga Muçulmana dos Sharif.

Se a oposição a Pervez Musharraf tinha servido como uma espécie de cimento aglutinador daquelas duas formações tradicionalmente rivais, a sua saída retira-lhes a causa próxima para a sua aliança conjuntural. Ou a percepção de uma outra ameaça os mantém coligados (os militares mais uma vez, agora chefiados pelo General Kayani...), ou então antecipa-se que a política paquistanesa vai animar, com o PPP liderado por Asif Zardari (viúvo de Benazir Bhutto) em disputa com a Liga Muçulmana de Nawaz Sharif.

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