11 agosto 2008

EM INGLÊS PARA O MUNDO

Houve um cartaz do regime do Estado Novo que foi no seu tempo muito gozado por se inserir na campanha de erradicação do analfabetismo e onde, creio, se fazia um apelo a que os analfabetos deixassem de o ser. Quanto à eficácia do cartaz, como se dizia na anedota a seu respeito daquela época: não houve nenhum analfabeto que tivesse deixado de o ler! O cartaz da fotografia que enfeita um artigo do Público de hoje, sobre os rostos do jihadismo é do mesmo quilate: trata-se de um cartaz tipo faroeste (encimado com o tradicional Wanted), redigido em inglês e onde se pedem informações e se oferece uma recompensa (10 milhões de dólares) pelo já falecido Mussab al-Zarqawi (cartaz parecido com o de cima). Aproveitando a piada: também naquele caso não deve ter havido iraquiano que não o tivesse deixado de o ler… Mais a sério, é evidente que o alfabeto corrente nos países árabes é o alfabeto árabe (acima) assim como o idioma. E sempre que temos direito a eventos em inglês adequados a que os possamos compreender naquelas paragens é uma atitude elementar desconfiar estarmos perante uma encenação destinada a consumo externo. Por exemplo, tornaram-se famosas as enormes discrepâncias entre os discursos em árabe e em inglês que eram proferidos por Yasser Arafat, o líder da OLP. Nos grandes problemas mundiais, como que se criou uma espécie de gramática política em inglês, especialmente vocacionada para o exterior. Um dos factores que confere uma identidade nacional forte à Geórgia, o que é uma indiscutível vantagem perante os seus dois grandes vizinhos (russos e turcos) é o seu idioma e o seu alfabeto próprio, cujas raízes datam do fim da Antiguidade, da época da evangelização do país (Século V d.C.). Embora se perceba perfeitamente as razões porque o faça, não deixa de me ser desconfortável assistir aos vários discursos do Presidente da Geórgia que passam nas televisões internacionais (Mikhail Saakashvili - acima) onde ele aparece sempre a falar inglês. Embora a sua causa nos seja simpática (trata-se do fraco contra o forte), lembra Arafat, e levanta-me a dúvida se aquilo que diz ao seu povo é igual ao que diz ao Mundo...

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