17 junho 2008

SANTO ANTÓNIO, O ORIGINAL

A razão para me terem baptizado António ter-se-á devido, de certeza quase absoluta, na sua origem, à pessoa, vida e obra de Fernando de Bulhões, o nosso Santo António de Lisboa. É nosso, tão nosso, que mais ninguém fora de Portugal o designa assim, preferindo a designação mais canónica de Santo António de Pádua, a cidade italiana onde se tornou conhecido e onde veio a morrer, apenas com 36 anos de idade. Mas esse nosso nacionalismo excessivo é uma história que costuma ser conhecida.
Muito menos conhecida que a história acima foi a distorção que em Portugal ocasionou que um outro Santo António, que era mais antigo e famoso que o nosso, fosse conhecido entre nós por um outro nome (Santo Antão - acima e abaixo), possivelmente para não obscurecer a proeminência do nosso santo nacional. Aquele que designamos por Santo Antão (mas cujo nome original em latim é Antonius) foi um dos precursores dos eremitas que, no Egipto dos Séculos III e IV, viviam numa vida de isolamento, abstinência e reflexão.
A obra original que contém a narrativa da vida do eremita egípcio foi escrita no Século IV em grego, por Atanásio, o Patriarca de Alexandria e intitula-se A Vida de Santo António, o Grande. Traduzida depois para latim e difundida no Ocidente, o nome do Santo manteve-se (e mantém-se) o mesmo (António) em todas as línguas (italiano, francês, inglês, neerlandês, alemão, polaco, etc.) com excepção do caso do castelhano, onde se toleram as duas formas (Antonio e Anton), e o português (Antão).
Fascinam-me estas figuras da Igreja primeva, que nos são tão longínquas temporal quão ideologicamente. A maioria delas são dificilmente compreensíveis pelos padrões da nossa civilização ocidental. Pelas narrativas, a vida deste Santo António Eremita mais depressa se assemelhará à de um Guru indiano (acima) do que à de um dos nossos Santos medievais (como o nosso Santo António de Lisboa…). Mas de uma coisa não nos devemos esquecer: como dizia o anúncio da Aspirina, o original, o da Bayer, é o egípcio…

6 comentários:

  1. Também tem a sua lógica de exportação...
    Por essa ordem de ideias - italianas - teríamos o Figo de Milão, o Couto de Parma e o Rui Costa de Florença.
    Aposto que até o Mourinho achava graça se lhe chamassem o Mourinho de Milão, que é uma terreola mais conhecida que Setúbal!

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  2. Até houve um António que, quando me lembro dele, me faz dores de cabeça e não há aspirina que me valha.

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  3. Mas nenhum desses "italianos" é santo, impaciente, especialmente o António de Santa Comba Dão, mencionado pelo JRD. A terra de origem é santa, ele é que nem por isso...

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  4. Essa aura de santidade é conquistada com milagres.
    Qualquer dos rapazes citados já conseguiu mais milagres que outros que só pararam no altar...
    Estou a ver mal?

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  5. Em certo episódio de "All in the Family" acusaram Archie Bunker de ser judeu porque os seus pais se chamavam David e Sarah. A resposta de Archie consta dos anais:

    - Chamavam-se David e Sarah, que são dois nomes biblícos, o que não tem nada a ver com judeus...

    A minha resposta/pergunta insere-se no mesmo espírito:

    - O que é que os milagres têm a ver com a Santidade?

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  6. Ora aí está uma pergunta a que só o Vaticano pode responder.
    Não sei se haverá um "site" www.santase.com/.

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