14 maio 2008

A CONSTITUCIONALIDADE DA SUPERFICIALIDADE

Eu percebo que as informações que enquadrem a luta política que se está a travar na Birmânia possam não ser realmente muito atraentes para o público em geral. Já é menos aceitável que jornalistas escrevam artigos de opinião a respeito do Líbano contendo erros grosseiros sem depois se retractarem, mas enfim, serão pequenos detalhes e, como se vê pela sua produção de hoje no mesmo jornal no mesmo local, o distinto jornalista até consegue produzir uma prosa - neste caso o assunto é o terramoto na China - que, quanto à densidade da informação contida, flutuaria em cima de azeite. Eu bem sei que aquilo pretende passar por artigos de opinião, mas pergunto-me que outros predicados terá Manuel Queiroz para se justifique darem-lhe aquele relevo no Diário de Notícias?
Numa contrapartida renhida, um dos seus concorrentes – Público – resolveu ontem pegar num episódio em que o 1º Ministro, o Ministro da Economia e mais não sei quantos membros da comitiva que os acompanhavam à Venezuela estiveram a fumar num voo em que isso era expressamente proibido. É obviamente grave, muito grave! Significativamente, os jornalistas daquele jornal que acompanham a comitiva durante a visita de Sócrates à Venezuela conseguiram produzir dois artigos ontem: um, contendo 880 palavras sobre as perspectivas da visita que se irá realizar, e o outro (presumivelmente muito mais interessante!) apenas com 790 palavras descrevendo todas as deambulações dos fumadores durante o voo e incluindo o número preciso de cigarros fumados por José Sócrates!…
Para quem pense que ainda possa existir aquilo que antigamente era designado pela expressão francesa fait divers fique a saber que o mesmo jornal retoma o assunto hoje de forma ainda mais aprofundada e desenvolvida: são 1360 palavras e um título que não deixa lugar a dúvidas – Constitucionalistas dizem que José Sócrates violou Lei do Tabaco. Há qualquer coisa de absurdo, e não apenas no jornalismo, nesta adição das opiniões de Jorge Miranda e de Vital Moreira que se prestam a dar mais colorido a este verdadeiro carnaval noticioso que confirma os traços de carácter desagradáveis de José Sócrates. Coisa que, os que gostam de andar informados, já de há muito conhecem. Dúvidas, só as havia (e só para alguns) quanto à utilidade que Belmiro de Azevedo dá à posse do seu jornal e essas desapareceram...

Adenda: Para que o carnaval noticioso acabasse numa quarta-feira de cinzas apropriada, o que faltava mesmo era que José Sócrates aparecesse em penitência: aí está ele!

3 comentários:

  1. Em tempo de guerra morna vão tendo lugares as manobras -de diversão, para evitar que ela aqueça.
    É dos livros.
    Já a guerra/vingança do Belmiro serve-se fria.

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  2. E nada de mais interessante se passa no mundo!

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  3. Também não é certo que as pessoas estejam receptivas às coisas importantes. É que estas, normalmente, são também preocupantes e provocam alguma ansiedade e necessidade de reagir. portanto, nada melhor que uma noticiazinha anestésica, com cheirinho a nicotina para ir embotando os sentidos...

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