23 abril 2008

BALDUÍNO IV, O REI LEPROSO

Balduíno IV (1161-1185) foi o 6º Rei do Reino de Jerusalém, aquele que foi o mais importante estado fundado pelos cruzados no Médio Oriente em consequência do sucesso registado com a Primeira Cruzada em 1099: a Conquista de Jerusalém. Mas, como se comprova pelo mapa abaixo, as pequenas dimensões do estado faziam com que o título de Reino fosse mais exuberante do que a realidade, numa época medieval em que a posse de terras agrícolas eram o verdadeiro apanágio da prosperidade.
De entre o contingente de cruzados houve quem escolhesse regressar ao país de origem e quem optasse por se instalar definitivamente no Oriente. Foi o caso dos antecessores de Balduíno IV, o primeiro dos quais, que também se chamava Balduíno, era originário de Bolonha, no Norte de França. Como era prática da época na região de onde eram originários, ele foi escolhido pelos seus pares e coroado pelo Patriarca em Belém em 25 de Dezembro de 1100*, como Balduíno I de Jerusalém (na gravura abaixo).

Como numa colónia europeia típica do Século XX naquelas paragens, a comunidade de origem europeia nunca foi numericamente significativa em qualquer daqueles estados, embora a ela pudessem pertencer quase todos os membros da elite: a politica, a militar e a religiosa. Mas a excepção seria a elite económica, porque os circuitos comerciais entre o oriente e o ocidente parecem ter permanecido em mãos locais. Mas também a própria elite de origem europeia se foi aculturando com o decorrer do tempo.
Balduíno I (1058-1118) morreu sem herdeiros. O trono passou para um primo seu, também chamado Balduíno (Balduíno II), que reinou de 1118 a 1131, mas que deixou apenas filhas, todas já nascidas no Oriente, a mais velha das quais veio a herdar o trono: Melisende (1105-1161). Mas o seu consorte, Fulco I (1089-1143), era um cruzado experiente originário da Europa. Foram os pais de Balduíno III (1130-1162), o quarto rei, cujas disputas com sua mãe (1150-1154) fazem lembrar as que Afonso Henriques tinha tido em Portugal com a sua…

Sem descendência, a Balduíno III sucedeu o seu irmão Amalrico I (1136-1174) e a este, seu filho Balduíno IV (1161-1185), o Rei Leproso, que se tornou rei ainda jovem (13 anos, abaixo uma gravura com a descoberta da doença), mas já se sabendo condenado. Para além dos tradicionais problemas criados pelos critérios de sucessão medievais – que podiam colocar o poder efectivo nas mãos de titulares incapazes de o exercer – as famílias reais destes estados tinham uma alta taxa de mortalidade associadas a baixas taxas de natalidade para as compensar…
Podem-se atribuir as responsabilidades do facto ao clima, talvez à consanguinidade ou ainda a um infeliz encadeamento de coincidências, mas Balduíno III morreu com 32 anos, Amalrico I com 38, Balduíno IV com 24 e o seu sucessor e sobrinho, Balduíno V, atingiu apenas os 9 anos (1177-1186). Compare-se esta fragilidade com a dos nossos monarcas contemporâneos: Afonso Henriques, que morreu com (uns excepcionais) 76 anos (1109-1185) ou Sancho I com (uns razoáveis) 58 anos (1154-1212)**.

Não fora o desaparecimento posterior do Reino de Jerusalém (1291) mais o desinteresse pela Causa da Recolonização da Terra Santa e Balduíno IV, mais a história de um leproso condenado à doença desde criança e que morreu no seu posto na defesa da cristandade, teria tido todas as condições para se tornar num outro mártir da causa cristã, tal qual aconteceu com Luís IX de França (abaixo, 1214-70), um outro Rei-Cruzado falecido por doença no cumprimento do dever (na Tunísia) e canonizado uns meros 27 anos depois da sua morte…
* A recordar a coroação de Carlos Magno pelo Papa no Natal de 800, mas completamente diferente da entronização de Afonso Henriques como Rei de Portugal daí a 40 anos…

** Além da longevidade, a diferença na natalidade também é notável. Sancho I teve mais 6 irmãos, dos quais apenas 2 irmãs alcançaram a idade adulta, e teve 11 filhos, 8 deles atingiram a idade adulta.

2 comentários:

  1. Godefroy de Bouillon é considerado a primeira figura nacional de Bélgica e a sua estátua equestre brilha numa praça de Bruxelas. Na idade de 16 anos tem o poder sobre a condado de Antuérpia e Bouillion . (Valónia ).Fundou o país de Jerusalém mas recusou o títere de rei,preferia chamar se protector da" sepultura sagrada" o seu irmão Balduíno foi coroado rei de Jeruzalem.
    cumprimentos de Antuerpia

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  2. Alfacinha:

    Fez bem, e eu agradeço-lhe, ter recordado a figura de Godofredo de Bulhão, o primeiro soberano (embora não coroado) de Jerusalém.
    Não o sabia Conde da sua Antuérpia.

    E julgava que a primeira (em cronologia) figura nacional da Bélgica era Ambiorix, o chefe celta que se opôs a Júlio César...

    Cumprimentos e agradecimentos

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